Folha de S. Paulo


Crise aumenta fluxo de brasileiros para Israel

Até o final deste ano, cerca de 700 judeus terão deixado o Brasil para viver em Israel, segundo a Agência Judaica, órgão ligado ao governo israelense que atua como facilitadora do processo de emigração em todo o mundo.

O número não apenas constitui mais do que o triplo da média anual como é também o maior dos últimos 45 anos.

Arquivo pessoal
David Zeitouni (esq.), que se mudou com sua família neste ano para Israel
David Zeitouni (esq.), que se mudou com sua família neste ano para Israel

Por trás dessa mudança estão presentes as mais diversas motivações. Segundo Revital Poleg, representante da Agência Judaica no Brasil, pesam desde razões pessoais e religiosas até a intenção de alguns pais de proverem uma boa educação para seus filhos ou fugir da violência urbana, passando por estudantes que querem ingressar nas universidades israelenses.

Influenciam na escolha, além disso, fatores conjunturais, como as crises econômica e política vivenciadas pelo país nos últimos anos. "Acho que muitos tinham essa ideia e a situação econômica apenas os empurrou a tomar essa decisão", afirmou Poleg à Folha.

Para o empresário David Zeitouni, 37, mais do que a crise econômica, foi a instabilidade política o principal motivo para ele trocar Campinas, em São Paulo, por Ashdod, a 30 km de Tel Aviv. Chegou em Israel em novembro, acompanhado da mulher e do filho do casal, de 10 anos.

"A situação política chegou num ponto que não dava mais para aguentar tanta patifaria", disse. "Creio que boa parte dos brasileiros que vieram neste ano foi influenciada pelas crises na economia e na política".

Zeitouni também menciona a sensação de insegurança no Brasil como um motivo para a mudança. "Aqui eu ando na rua com tranquilidade, posso passear de madrugada, falar ao celular sem ter medo de ser
assaltado".

DIREITO

O direito de fazer o aliá (palavra em hebraico que significa "subir") baseia-se na Lei do Retorno, de 1950, que permite aos judeus de qualquer país do mundo estabelecerem-se em Israel.

Após chegarem ao novo país, os aprovados no processo de seleção recebem uma ajuda modesta do governo: curso de hebraico de cinco meses e seis meses de assistência médica gratuita.

Segundo Poleg, cerca de 70% dos imigrantes brasileiros são de pessoas de até 45 anos, e uma grande porcentagem destes são de famílias que procuram dar uma educação de qualidade para seus filhos. "Israel oferece educação gratuita de qualidade a todos entre a idade infantil (três anos) e o final do ensino médio", afirma a representante da Agência Judaica.

Até hoje, mais de 15 mil judeus brasileiros já emigraram para Israel.

A VOLTA

Embora não exista uma estatística oficial, não são incomuns casos de judeus que voltaram para o Brasil após um período vivendo em Israel. O especialista em comunicação Ariel Torok, 34, morou por cinco anos em Jerusalém e retornou em agosto para o Rio de Janeiro.

O principal motivo para a volta, aponta, foi o alto custo de vida no país do Oriente Médio. "Em Israel, há uma linha tênue entre viver e sobreviver", afirma Torok. Por essa razão, diz, outros conhecidos seus também retornaram aos países de origem.

De acordo com Torok, o alto preço dos aluguéis obriga as pessoas a dividirem apartamentos -ou viverem em locais precários, localizados em subsolos e sem janelas. Os preços exorbitantes, segundo ele, se estendem para bares e restaurantes.

Torok também cita a dificuldade de estrangeiros de conseguir emprego nas áreas em que são formados como um outro problema enfrentado por quem emigra para Israel.


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