Folha de S. Paulo


Maioria das meninas se casa com adultos, diz fundadora de ONG

Há cinco anos, Fraidy Reiss, 41, fundou a Unchained at Last (enfim livre), ONG dedicada a socorrer mulheres de casamentos forçados nos EUA. Não deu tempo de ajudar Noor Almaleki, iraquiana-americana morta no Arizona, atropelada pelo próprio pai em 2009, após recusar uma união arranjada. Ele batizara, 20 anos antes, a primogênita com um nome que significa "luz de Deus".

Mas deu para mudar o destino de 260 mulheres, libertas de matrimônios indesejados.

Fraidy sofreu isso na pele. Aos 19, virgem e ingênua, a família lhe "entregou" a um homem que a princípio parecia "divertido" (era parado por excesso de velocidade e se envolvia em brigas de rua).

Ele acabou se revelando um marido violento, que socava a parede e a ameaçava de morte. Fraidy se separou aos 27, para desgosto da comunidade judaica ultraortodoxa na qual foi criada.

À Folha ela fala sobre entidade, que defende a mudança em leis estaduais para restringir o casamento de menores, e garotas que, ainda mais novas e mais ingênuas do que ela foi um dia, passam por situação similar à sua.

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O instituto Pew diz que 57,8 mil jovens de 15 a 17 casaram nos EUA em 2014. Você diz que o número é maior.
Minha preocupação é que esses números de baseiam em pesquisas do censo [nas quais a resposta é voluntária], não em licenças matrimoniais. E eles não incluíram crianças casadas com menos de 15 anos.
[Em 2017, nós] vamos revelar resultados com dados de 50 Estados nos últimos 15 anos. O número é impressionantemente alto. Crianças com 12 anos até. E a maioria das garotas casadas nos Estados Unidos são enlaçadas com homens adultos.

Há um padrão comum para uniões precoces?
Acontece em quase toda religião e cultura que você pode imaginar, em famílias americanas multigeracionais e lares imigrantes. É uma violência de gênero de proporções globais, não de uma comunidade ou outra.

E os garotos?
Eles são atingidos também, mas na Unchained at Last descobrimos que: a) casamentos forçados e arranjados são mais prováveis de acontecer com garotas e mulheres; b) elas enfrentam mais obstáculos se tentam resistir ou escapar. Por exemplo, sob lei do judaísmo ortodoxo, um homem pode pedir divórcio, mas a mulher, não.

Onde, nos EUA, você diria que as pessoas são mais resistentes a aprovar leis para proibir o matrimônio com menores?
Nenhum dos 50 Estados aprovou leis que proíbam qualquer casamento antes dos 18 anos, embora Nova Jersey esteja próximo disso. Os próximos anos mostrarão [nas cortes] quem, nos EUA, está determinado a não pôr um fim ao abuso de direitos humanos que é o casamento infantojuvenil.


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