Folha de S. Paulo


Funeral de Fidel reúne bolivarianos e Serra sob relações estremecidas

Representante do presidente Michel Temer no funeral de Fidel Castro, o chanceler José Serra desembarcou nesta terça-feira (29) em Havana para ficar ao lado de líderes de países com os quais o Brasil atravessa relações estremecidas.

A lista começa pelo próprio anfitrião. Em agosto, Cuba condenou "energicamente" o impeachment de Dilma Rousseff.

Para o governo de Raúl Castro, tratou-se de "um golpe de Estado parlamentar-judicial" contra a petista.

Na nota da Chancelaria cubana, a ascensão de Temer foi um "ato de desacato à vontade soberana do povo que a elegeu" e "outra expressão da ofensiva do imperialismo e da oligarquia contra os governos revolucionários e progressistas da América Latina e do Caribe".

Em setembro, a comitiva cubana foi uma das que constrangeram Temer ao abandonar a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no início do seu discurso.

Os outros países que saíram em protesto a Temer foram Equador, Costa Rica, Bolívia, Nicarágua e Venezuela.

Os mandatários de todos esses países confirmaram participação no evento em homenagem a Fidel, marcado para às 19h locais (22h em Brasília), em que Serra representará o Brasil
Serra veria inclusive o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, com quem troca farpas. Com apoio do Brasil, a Venezuela, principal aliado internacional de Cuba, deve ser suspensa do Mercosul nesta quinta-feira (1°).

O chanceler desembarcou pela manhã, acompanhado do novo ministro da Cultura, Roberto Freire.

Em rápida entrevista à Folha por telefone, o embaixador brasileiro em Havana, Cesário Melantonio Neto, minimizou o rechaço do regime cubano ao governo Temer.

"O Brasil estabeleceu relações diplomáticas com Cuba em 1986", afirmou Melantonio, no cargo desde 2014, no governo Dilma Rousseff.

"A participação de Serra ocorre no contexto de normalidade das relações entre Brasil e Cuba", completou.

Apesar das críticas duras, Cuba não retirou seu embaixador de Brasília e deu prosseguimento ao programa Mais Médicos.

Nas últimas semanas, dezenas de professores de português desembarcaram em Havana, como parte dos preparativos para a rotação de profissionais.

Cerca de 11 mil médicos cubanos atuam em Cuba, em acordo mediado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O envio de profissionais de saúde ao exterior é uma das principais fontes de divisas do regime comunista.

EUA

Apesar da retomada das relações diplomáticas com a Havana, há dois anos, o governo Barack Obama não enviou uma delegação para a cerimônia desta terça.

Os EUA serão representados por Ben Rhodes, vice-conselheiro nacional de segurança, e por Jeffrey DeLaurentis, nomeado por Obama para embaixador na ilha.

A recém-aberta embaixada americana em Havana tem provocado indignação nos cubanos por não ter içado a bandeira a meio mastro em homenagem a Fidel, morto na última sexta-feira (25).

Entre os cubanos existe a expectativa de que o presidente eleito, Donald Trump, reverta, a partir de janeiro, a reaproximação com os Estados Unidos.

Nesta segunda-feira (28), aliás, duas empresas americanas reiniciaram voos comerciais a Cuba, após hiato de 50 anos.

Ao todo, 15 presidentes africanos e latino-americanos confirmaram presença no evento de despedida de Fidel, na icônica praça da Revolução, em Havana.

A lista inclui o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, e o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe.

A partir desta quarta-feira (30), uma procissão com as cinzas de Fidel deixa Havana rumo a Santiago de Cuba, a cerca de 900 km, a leste, onde ocorrerá o funeral.


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