Folha de S. Paulo


Em Miami, festa une insultos a Fidel Castro e vivas a Donald Trump

Acordado por um amigo no meio da noite com a notícia da morte de Fidel Castro, o artista plástico cubano Felix Sanchez não acreditou.

"Achei que era brincadeira ou mais um boato de muitos que já tinha ouvido. Esperei tanto por este momento que foi difícil acreditar que ele chegaria", disse Sanchez, segurando uma cabeça de Fidel espetada num pedaço de pau em Little Havana, Miami, reduto da oposição cubana.

No carnaval que reuniu centenas de pessoas na rua principal do bairro, quase todos tinham uma história de sofrimento e se sentiam pessoalmente vítimas de Fidel. Sanchez, 64, diz que "perdeu a infância" por causa da revolução e quase morreu ao escapar da ilha, chegando a Miami em 1980 após quatro dias à deriva.

O empresário José Hernandez, 74, não segura as lágrimas quando lembra o momento em que soube que Fidel estava morto. Os negócios do pai e a casa da família em Havana foram confiscados na revolução, conta. Seu pai resistiu e passou dois anos na cadeia. Ele deixou a ilha em 1961 e conseguiu trazer os pais pouco depois a Miami, onde refez a vida. Mas jamais perdoou Fidel.

"Este é o começo do fim", disse Hernandez, repetindo a esperança dos opositores de Fidel de que a morte do Fidel irá acelerar a mudança do regime cubano. "Aquilo só era socialista no nome. Quem se deu bem foram os puxa-sacos dos irmãos Castro, enquanto para o povo não sobravam nem migalhas."

Tradicional ponto de encontro dos cubanos em Little Havana, o restaurante Versailles virou o foco da celebração, que começou assim que a morte de Fidel foi noticiada. Entre as bandeiras de Cuba e os cartazes anti-Fidel também havia muitos simpatizantes do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

A maioria aqui é contra a reaproximação dos EUA com Cuba conduzida por Barack Obama e aposta num endurecimento com Trump na Casa Branca. Casado com uma cubana que não consegue autorização para juntar-se a ele em Miami, o promotor de eventos Janusz Biskupek foi vestido de Trump dos pés à cabeça e era festejado por gritos de "Fidel nó, Trump sí!".

Fantasiado de Fidel, charuto entre os dedos, Arthur Martin, 57, também comemorava a saída de cena definitiva do ditador como "o começo do fim" para o regime, mas sem ilusão de que será um processo rápido. Ainda assim, diz que é motivo de festa não só para Cuba, mas para seus "satélites ideológicos".

"É o renascimento de Cuba e espero que também dos países contaminados pela opressão do regime, como Venezuela, Nicarágua e Equador", diz.


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