Folha de S. Paulo


Preocupada com eleições, Merkel quer coibir notícias falsas nas redes sociais

Indicando um aumento da pressão da Alemanha contra as redes sociais, que Berlim quer tratar como veículos de comunicação e não mais empresas de internet, a chanceler alemã Angela Merkel atacou os "bots", programas criados para viralizar notícias falsas e influenciar a opinião pública, em seu primeiro discurso no parlamento depois de anunciar no domingo sua intenção de concorrer à reeleição.

Merkel pediu um debate sobre o poder de notícias falsas e como esses programas podem manipular o povo. "Para atingir e inspirar as pessoas, precisamos lidar com esse fenômeno e —onde for necessário— regulamentá-lo", disse a chanceler na quarta-feira (23).

O papel que redes sociais como Facebook e Twitter desempenham na difusão de informação falsa ou maliciosa se tornou alvo de Merkel após a surpresa da eleição do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos.

Tobias Schwarz/AFP
Angela Merkel na reunião de cúpula de seu partido o CDU, onde anunciou candidatura à reeleição
Angela Merkel na reunião de cúpula de seu partido o CDU, onde anunciou candidatura à reeleição

Softwares como os "bots" são capazes de imitar o comportamento humano na internet, postando mensagens e curtindo notícias postadas. Alguns analistas apontam que a proliferação de notícias falsas teve peso decisivo na virada da eleição americana a favor de Trump.

Na Alemanha, onde Merkel vem sendo atacada pela extrema direita por sua política de portas abertas aos refugiados, aumenta a preocupação sobre a influência que notícias falsas podem exercer sobre os eleitores.

A chefe de Estado alemã chegou a convocar o professor Simon Hegelich, professor de estatística da ciência política, para se dirigir ao comitê executivo de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). "Merkel está muito interessada no assunto dos 'bots', notícias falsas e discurso de ódio na internet e está muito bem informada", disse Hegelich.

Embora todos os partidos políticos alemães tenham dito que não usarão "bots" na campanha, o fato de eles serem em grande parte anônimos dificulta o trabalho de descobrir quem responde por eles. Hegelich não descarta a possibilidade de eles serem usados para desacreditar partidos ou políticos.

O responsável por segurança interior no país se mostrou preocupado com uma potencial interferência russa nas eleições alemãs com a difusão de notícias falsas. Elas têm, aliás, se tornado um modelo de negócios lucrativo. Nos Estados Unidos, blogueiros sem filiação partidária descobriram que podiam ganhar muito dinheiro replicando notícias falsas e sensacionalistas.

Algoritmos no Facebook, por exemplo, também são capazes de determinar que tipo de conteúdo aparece nas páginas de seus usuários, criando o efeito de "câmara ecoica", em que todas as postagens refletem a opinião do usuário.

Reagindo a fortes críticas por fracassar ao tentar limitar a enxurrada de notícias falsas às vésperas da eleição americana, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, divulgou estratégias para lidar com esses artigos e outros tipos de trote. Entre as medidas, está facilitar a maneira de denunciar conteúdo falso e tentativas de colaboração com organizações independentes e jornalistas para a checagem de fatos. Também há a intenção de acrescentar uma advertência a conteúdo suspeito.

O ministro da Justiça alemão, Heiko Maas, disse na semana passada que iria monitorar mais de perto a forma como o Facebook reage a notícias falsas, mas disse também que medidas legais são limitadas. Ele também disse que a rede social deve ser legalmente responsável pela remoção desse conteúdo. Já Merkel chegou a propor um código de conduta para as redes sociais.

Thomas Jarzombek, o porta-voz da CDU para política digital, disse que mais transparência é necessária e pediu o apoio de jornalistas da mídia tradicional para denunciar notícias falsas e gerar debates mais informados.

Fechando o cerco contra as redes sociais, a Alemanha espera que a União Europeia siga seus passos, propondo que o bloco tente multar as redes sociais por postagens que violem a lei europeia contra a veiculação de discursos de ódio.


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