Folha de S. Paulo


Oposição examina possibilidade de destituição de presidente sul-coreana

Partidos de oposição na Coreia do Sul anunciaram nesta segunda-feira (21) que consideram a possibilidade de iniciar um julgamento de destituição da presidente Park Geun-Hye, envolvida em um escândalo de corrupção.

A advertência foi feita um dia depois de a procuradoria ter apontado Park como suspeita no caso de tráfico de influência que abala seu governo.

"Vamos revisar os prazos e métodos de 'impeachment' e criar um subcomitê para preparar uma estratégia neste sentido", afirmou Choo Mi-Ae, presidente do Partido Democrata.

Kim Kyung-Hoon/Reuters
Multidão protesta em Seul contra a presidente da Coreia do Sul, envolvida em escândalo
Multidão protesta em Seul contra a presidente da Coreia do Sul, envolvida em escândalo

Dois líderes de pequenos partidos da oposição já afirmaram que são favoráveis à estratégia.

Juntos, os partidos opositores ocupam 179 das 300 cadeiras do parlamento sul-coreano —contra 129 do partido da presidente. Para o processo de impedimento ser aberto, é necessário o voto de metade dos parlamentares. Para ser aprovado, dois terços.

Por último, se o impeachment for aprovado, ele ainda precisa ser referendado por seis dos nove juízes da Suprema Corte do país.

As grandes manifestações contra a presidente aumentaram a pressão sobre o os parlamentares a respeito de um processo de destituição. Cerca de um milhão de pessoas protestaram durante a semana em todo o país para exigir a renúncia da presidente após o escândalo, iniciado no mês passado e que cresceu como uma bola de neve.

Mas, temendo o impacto adverso entre os eleitores conservadores, o Partido Democrata parece hesitar em iniciar um longo processo de impeachment que pode demorar meses.

O caso envolve a polêmica melhor amiga de Park, Choi Soon-sil, detida por fraude e abuso de poder, e dois conselheiros da presidência.

Amiga de Park há 40 anos, Choi é acusada de ter utilizado sua relação com a presidente para obrigar grandes empresas como a Samsung a realizar grandes doações a fundações criadas por ela, usando depois o dinheiro para fins pessoais.

Além disso, Choi, de 60 anos, supostamente também se envolveu em assuntos de Estado e teria inclusive influenciado a nomeação de altos cargos.

A presidente Park é suspeita de ter ajudado a amiga a obter dinheiro para as já mencionadas fundações e de ter permitido que ela atuasse em assuntos de Estado, apesar de não ter cargo oficial.

CÚMPLICE

No domingo, Park Geun-Hye foi acusada por promotores de ser cúmplice no escândalo de corrupção que envolve sua melhor amiga e dois membros de seu governo.

"Com base nas provas de que dispomos até o momento, consideramos que a presidente teve um papel de cumplicidade em uma parte considerável das atividades criminosas que envolvem as (três) pessoas", afirmou Lee Young-Ryeol, o procurador que comanda as investigações.

Choi e os dois conselheiros, Ahn Jong-beom e Jeong Ho-Seong, foram indiciados formalmente, informou o procurador.

Para tentar reduzir a revolta popular, a presidente sul-coreana já apresentou vários pedidos de desculpas, destituiu várias pessoas em cargos de alto escalão e aceitou, inclusive, abrir mão de várias de suas prerrogativas, mas tudo isso em vão.

Ela contratou um advogado para iniciar um diálogo com os investigadores e examinar a possibilidade de uma audiência, fato sem precedentes para um presidente na história da Coreia do Sul.

De acordo com a Constituição do país asiático, um chefe de Estado em exercício não pode ser objeto de julgamento penal, exceto no caso de insurreição ou traição.

Park admitiu ser responsável pelo escândalo, que derrubou sua popularidade. No momento, ela tem apenas 5% de apoio entre a população.

A presidente alegou ter sido vítima do excesso de confiança em sua amiga, ao mesmo tempo que admitiu uma falta de vigilância a respeito.


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