As prévias dos partidos de direita franceses ganharam ares de prévias do campo republicano da França.
Diante da falência política do governo de centro-esquerda de François Hollande, no fundo do poço da impopularidade, o vencedor das prévias emergirá como o mais apto a unir o país contra Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Front National, no segundo turno das presidenciais de maio de 2017.
Foi precisamente para preparar o embate final contra Le Pen que o ex-presidente (2007-2012) Nicolas Sarkozy rebatizou o seu partido de Les Républicains (ex-Union pour un Mouvement Populaire) quando reassumiu a sua liderança após três anos de hiato.
Até pouco tempo atrás, analistas davam a qualificação do ex-presidente Nicolas Sarkozy como um dado adquirido. A sua campanha nas prévias lembra a sua vitória presidencial de 2007. Um equilíbrio complexo de declarações agressivas e discursos unificadores, articulado por um grupo de acólitos, também agressivos e muito presentes no espaço midiático.
Mas a estratégia não surtiu o efeito esperado. Sarkozy acabou emaranhado numa rede de escândalos.
A fragilidade da candidatura Sarkozy permitiu a ressurreição de Alain Juppé, ex-herdeiro político de Jacques Chirac. A longa carreira de Juppé foi marcada por alguns altos –serviu três vezes como ministro– e muitos baixos.
Ainda assim, a sua personalidade lisa e tecnocrática o permitiu impor-se como uma alternativa para os eleitores avessos ao estilo temperamental de Sarkozy.
Porém, o eterno candidato Sarkozy e o candidato reciclado Juppé não saciaram o apetite de uma franja do eleitorado de direita que quer mudanças mais radicais.
François Fillon tem aproveitado a brecha. Quando era primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy, Fillon teve de engolir vários sapos, o que lhe valeu a reputação de executivo submisso. Entrou na campanha das prévias abraçando a causa quixotesca de uma revolução liberal à la Thatcher, bandeira política que jamais ganhou apoio dos franceses.
Existe a possibilidade de eliminação prematura de Sarkozy. Ele se juntaria a Cécile Duflot, figura tutelar do Europe Écologie-Les Verts ejetada pelos militantes no primeiro turno das prévias do partido, no cemitério de grandes animais políticos. Que provavelmente terá de arrumar espaço para acomodar mais ex-presidenciáveis na campanha de alto risco de 2017.
MATHIAS DE ALENCASTRO é doutor em Ciência Política na Universidade de Oxford.