Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Quem ganhar prévias será o mais apto a unir a França contra Le Pen

Pascal Guyot - 18.nov.2016/AFP
O ex-presidente Nicolas Sarkozy, durante evento de campanha em Nimes, no sul da França, na sexta (18)
O ex-presidente Nicolas Sarkozy, durante evento de campanha em Nimes, sul da França, na sexta (18)

As prévias dos partidos de direita franceses ganharam ares de prévias do campo republicano da França.

Diante da falência política do governo de centro-esquerda de François Hollande, no fundo do poço da impopularidade, o vencedor das prévias emergirá como o mais apto a unir o país contra Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Front National, no segundo turno das presidenciais de maio de 2017.

Foi precisamente para preparar o embate final contra Le Pen que o ex-presidente (2007-2012) Nicolas Sarkozy rebatizou o seu partido de Les Républicains (ex-Union pour un Mouvement Populaire) quando reassumiu a sua liderança após três anos de hiato.

Até pouco tempo atrás, analistas davam a qualificação do ex-presidente Nicolas Sarkozy como um dado adquirido. A sua campanha nas prévias lembra a sua vitória presidencial de 2007. Um equilíbrio complexo de declarações agressivas e discursos unificadores, articulado por um grupo de acólitos, também agressivos e muito presentes no espaço midiático.

Mas a estratégia não surtiu o efeito esperado. Sarkozy acabou emaranhado numa rede de escândalos.

A fragilidade da candidatura Sarkozy permitiu a ressurreição de Alain Juppé, ex-herdeiro político de Jacques Chirac. A longa carreira de Juppé foi marcada por alguns altos –serviu três vezes como ministro– e muitos baixos.

Ainda assim, a sua personalidade lisa e tecnocrática o permitiu impor-se como uma alternativa para os eleitores avessos ao estilo temperamental de Sarkozy.

Porém, o eterno candidato Sarkozy e o candidato reciclado Juppé não saciaram o apetite de uma franja do eleitorado de direita que quer mudanças mais radicais.

François Fillon tem aproveitado a brecha. Quando era primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy, Fillon teve de engolir vários sapos, o que lhe valeu a reputação de executivo submisso. Entrou na campanha das prévias abraçando a causa quixotesca de uma revolução liberal à la Thatcher, bandeira política que jamais ganhou apoio dos franceses.

Existe a possibilidade de eliminação prematura de Sarkozy. Ele se juntaria a Cécile Duflot, figura tutelar do Europe Écologie-Les Verts ejetada pelos militantes no primeiro turno das prévias do partido, no cemitério de grandes animais políticos. Que provavelmente terá de arrumar espaço para acomodar mais ex-presidenciáveis na campanha de alto risco de 2017.

MATHIAS DE ALENCASTRO é doutor em Ciência Política na Universidade de Oxford.


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