Folha de S. Paulo


Universidades em 'luto' pela eleição de Donald Trump consolam alunos

Algumas das mais conceituadas universidades americanas vivem clima de luto pela vitória de Donald Trump. Aulas foram canceladas e provas, adiadas por causa do estado emocional de alunos e professores.

Em reação ao comportamento nos campi, dirigentes das universidades Harvard, Columbia, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Stanford e de Nova York (NYU) enviaram comunicados oferecendo ajuda.

Drew Angerer/Getty Images/AFP
 NEW YORK, NY - NOVEMBER 9: Natalie Meilen, a student at New York University, pauses after speaking about her grievances with the policies of Donald Trump and Mike Pence during a gathering in Washington Square Park, November 9, 2016 in New York City. Republican candidate Donald Trump won the 2016 presidential election in the early hours of the morning in a widely unforeseen upset. Drew Angerer/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Natalie Meilen, estudante universitária, em discurso contra a política de Trump em Nova York

Os emails, aos quais a Folha teve acesso, disponibilizam até serviços médico e psicológico para tratamento de ansiedade, raiva e tristeza.

"O clima está sombrio, parece que morreu uma avó querida de todos", disse o estudante de administração pública de Harvard Paul Antonio Ochoa, 24, mexicano.

Em Cambridge, onde fica a instituição, 89,2% dos eleitores votaram na democrata Hillary Clinton.

Desde que Trump foi eleito, todas as aulas de Ochoa tiveram discussões sobre o assunto. E, com o apoio de Harvard, foram organizadas "sessões de cura", para que todos expusessem sentimentos.

Na Columbia, em Nova York, desde quarta-feira (9) alunos e professores se abraçam e choram pelo campus e nas salas de aula. A reportagem presenciou cenas assim no Teachers College (escola de educação ligada à universidade). Alunos relataram o mesmo nas escolas de Artes, Direito, História, Ciências Sociais e Administração.

Renata Cafardo/Folhapress
 O estudante Bing Guan, 24, estudante de Historia de Columbia:
Bing Guan, 24, estudante de Historia de Columbia, se diz "devastado", em frente a universidade

Provas e entregas de trabalho foram adiadas, aulas foram substituídas por debates emocionados.

"Não dá para eu simplesmente sentar e começar a discutir o prédio que vou construir", disse a americana Monica Wojnouiak, 22, estudante de arquitetura.

Outros estudantes nem sequer foram às aulas no dia seguinte às eleições, como Bing Guan, 24, que nasceu na China, mas é naturalizado americano. "Estou devastado e sem ânimo, foi um tapa na cara que doeu demais, ainda estou tentando entender."

TOLERÂNCIA

Em carta à comunidade acadêmica, o presidente da Columbia, Lee C. Bollinger, pediu que todos mantenham firmes os valores de liberdade de expressão, tolerância e respeito à diversidade, "princípios que muitos temem que estejam sendo violados".

"Na minha vida toda, não houve uma escolha (...) que tenha causado sentimentos de apreensão e vulnerabilidade em tantas pessoas, incluindo estudantes, professores e funcionários da nossa comunidade acadêmica", afirmou, no comunicado.

Em texto dirigido aos alunos e professores, o presidente da NYU, Andrew Hamilton, disse que, encerrada a campanha, "nossa tarefa é encontrar uma maneira de seguirmos em frente com as nossas vidas, a nossa comunidade, o nosso país".

Hamilton ofereceu o atendimento do centro médico e psicológico da universidade.

Em Manhattan, 10% dos eleitores escolheram Trump.

"Neste momento histórico, nós vemos que professores, alunos e funcionários estão sentindo incerteza, raiva, ansiedade e medo", diz o comunicado da Universidade Stanford, na Califórnia, que também disponibilizou seu serviço psicológico. "O mais importante é cuidarem de vocês mesmos e darem apoio para aqueles que precisam."

A universidade está organizando palestras sobre o resultado das eleições, uma delas com o título "O que importa para mim e por quê".

Depois de reunir-se com alunos para ouvir suas incertezas, a reitora da Kennedy School (a escola de administração de Harvard), Karen Jackson-Weaver, divulgou email em que se disse esperançosa, mas lembrou "a importância do cuidado com a saúde e o bem-estar neste momento pós-eleição".

"Quem estiver vivendo estresse mental e emocional e quiser conversar com alguém urgentemente contate os serviços de saúde da universidade", disse ela, na carta.


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