Folha de S. Paulo


Controle nuclear nas mãos de Donald Trump gera apreensão internacional

Donald Trump, presidente eleito dos EUA, receberá um "biscoito" em janeiro.

Assim apelidado, o cartão que contém os códigos do arsenal nuclear será entregue ao republicano assim que ele assumir o cargo. A partir daí, será apenas dele a decisão de acionar uma arma que pode matar milhões.

Atta Kenare/AFP
 A picture taken on November 10, 2016 in the Iranian capital Tehran shows local newspapers displaying articles on US president-elect Donald Trump a day after his election. Iran's President Hassan Rouhani said on November 9 there was
Jornais em Teerã exibem capa com Trump e citam acordo nuclear com EUA

Retratado nos últimos meses como alguém intempestivo, Trump causa algum nervosismo ao acumular esse poder. Ele já afirmou, por outro lado, que as armas nucleares são uma das maiores ameaças à humanidade.

A decisão de acionar o arsenal é tomada sob pressão. Se os EUA estiverem sob ataque, é uma questão de minutos. Não é possível reverter o lançamento após seu início.

Trump pode ignorar todas as advertências, caso queira, e sua palavra é definitiva.

A falta de mecanismos de controle é alvo de críticas. Bruce Blair, fundador de um grupo contrário às armas nucleares, escreveu no mês passado no jornal americano "New York Times" que "ninguém poderia vetar uma má decisão de Donald Trump".

Hillary abordou o tema em sua campanha, retratando o republicano como alguém despreparado para a responsabilidade inerente ao cargo.

Estima-se que os EUA tenham mais de 2.000 ogivas nucleares, que Trump já disse não ter planos de disparar. "É um horror usar armas nucleares. Serei o último a fazê-lo. Mas nunca o descartarei."

Apesar de internacionalmente criticada, sua aproximação com Vladimir Putin, presidente da Rússia, diminui os temores de um confronto entre as duas principais potências nucleares.

Trump também afirmou apoiar que países como Japão e Coreia do Sul obtenham suas próprias armas nucleares. À CNN, ele disse que "tantos outros países têm [os mísseis] agora", como Paquistão e China.

ENERGIA

A expectativa nuclear em relação a Trump não se restringe aos armamentos. A julgar por sua campanha, ele pode expandir o uso da tecnologia para a geração de energia. Especialistas no tema reunidos em Viena conversaram com a Folha a respeito desse cenário.

"O Partido Republicano tem mais atração à energia nuclear do que o Democrata", diz Alexander Bychkov, representante na Áustria da Rosatom, estatal de energia nuclear russa.

Os pesquisadores estavam reunidos para um encontro organizado pela MEPhI, universidade pública russa dedicada a estudos nucleares.

Trump afirmou, na campanha, que os EUA precisam de mais usinas nucleares.

IRÃ

Outra questão atômica em torno do presidente eleito é a chance de que ele reverta o acordo nuclear com o Irã, negociado no ano passado e visto, até então, como um dos principais legados do governo de Barack Obama.

Trump criticou o acordo em diversas ocasiões e chegou a dizer que sua anulação seria uma grande prioridade.

Mikhail Chudakov, vice-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, afirmou em Viena não acreditar que os EUA mudariam de rumo. Ainda que Trump quisesse, ele não poderia tomar sozinho essa decisão. "Não é uma ditadura."

Essa é uma questão acompanhada por empresários europeus, que aguardam o fim das sanções econômicas contra o Irã para prosseguir com seus investimentos no país.

O jornalista DIOGO BERCITO viajou a convite da MEPhI.


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