Folha de S. Paulo


Vice-líder de partido populista alemão critica 'onda de migrantes' no país

O discurso anti-imigração, em meio a uma crise global de refugiados que afetou em cheio os alemães, colaborou para o crescimento da sigla populista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha).

"As consequências da onda de migrantes de 2015 vão nos acompanhar por muito tempo", afirma à Folha, por e-mail, a vice-líder do partido, Beatrix von Storch, 45.

Ela descarta uma melhora no quadro, mesmo com uma drástica queda no número de solicitantes de asilo no país este ano (213 mil até setembro) em relação a 2015 (890 mil). "Os números oficiais não incluem aqueles que entram ilegalmente no país, por exemplo", diz Von Storch.

Steffi Loos - 18.set.2016/AFP
A vice-líder da AfD (Alternativa para a Alemanha), Beatrix von Storch, fala à imprensa após eleição de Berlim
A vice-líder da AfD (Alternativa para a Alemanha), Beatrix von Storch, fala à imprensa em Berlim

O partido quer o Exército protegendo as fronteiras do país —o alemão, já que é contra a criação de um corpo armado da União Europeia— e uma Alemanha mais forte em detrimento da UE. Para isso, defende o fim das políticas de resgate do euro —marca do governo Merkel— e um plebiscito sobre a continuidade de Berlim na zona da moeda única europeia.

O caminho, porém, não será fácil, diz o cientista político Gero Neugebauer, da Universidade Livre de Berlim. Ele afirma que a Constituição alemã permite a realização de plebiscito em um único caso: quando dois Estados da Federação desejam se unir.

Mudar a Constituição iria requerer uma maioria da AfD no Parlamento alemão, cenário improvável para a eleição do ano que vem.

O partido, aliás, defende que o sistema político alemão se aproxime do modelo suíço de democracia direta, com frequentes referendos e plebiscitos.

Von Storch chegou a proclamar "o início do fim da era Merkel" em setembro, depois de a AfD superar em votos o partido da chanceler na eleição regional do pequeno Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, no leste.

Eleita eurodeputada em 2014, Von Storch integra no Parlamento Europeu o bloco eurocético EFDD (Europa da Liberdade e da Democracia Direta), liderado pelo britânico ultranacionalista Nigel Farage.

NAZISTAS

A vice-líder rechaça comparações entre a AfD e os nazistas. No caso do deputado do partido que chamou refugiados de "vermes repugnantes" na internet e elogiou a Alemanha de Hitler, ela afirma: "Assim que a AfD soube das opiniões do sr. Nerstheimer, agiu imediatamente e encaminhou sua expulsão do partido. O bloco da AfD no Parlamento de Berlim não recebeu ele como membro. Tomamos todas as medidas necessárias".

Ela se mostra mais preocupada do que a própria líder da sigla, Frauke Petry, em não dar motivos para que essa comparação seja feita.

Questionada sobre a declaração de Petry em defesa da reabilitação do termo "völkisch", usado pelos nazistas como sinônimo de "nacional", Von Storch lembra que a palavra é "historicamente sobrecarregada". "Eu sou da opinião de que não é inteligente descrever problemas do presente com termos historicamente sobrecarregados."

'MINORIA BARULHENTA'

Ferrenha opositora da legalização do casamento gay, Von Storch afirma que "homofobia é um termo indefinido". Ela diz que "violência não tem lugar na AfD, seja contra minorias ou maiorias", mas reafirma a visão presente no programa do partido, que se refere à população LGBT como uma "minoria barulhenta".

O termo aparece em meio às propostas para educação. Para a AfD, as escolas alemãs "enfatizam unilateralmente homossexuais, transexuais e bissexuais".

"Na escola, as crianças devem se tornar cidadãos pensantes independentes e não receptores de doutrinações com ideologias absurdas", diz Von Storch.


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