Folha de S. Paulo


Mortalidade ao cruzar Mediterrâneo dispara em 2016, diz agência da ONU

Aris Messinis/AFP Photo
Migrants wait to be rescued as they drift at sunset in the Mediterranean Sea some 20 nautical miles north off the coast of Libya on October 3, 2016. Italy coordinated the rescue of more than 5,600 migrants off Libya, three years to the day after 366 people died in a sinking that first alerted the world to the Mediterranean migrant crisis. / AFP PHOTO / ARIS MESSINIS ORG XMIT: ARIS2438
Migrantes aguardam ser resgatados no mar Mediterrâneo, este mês, na costa da Líbia

Pelo menos 3.740 migrantes morreram este ano tentando cruzar o mar Mediterrâneo, número que quase se equipara ao total de mortes registradas durante todo o ano de 2015, quando três vezes mais pessoas se lançaram a esse mar, alertou nesta terça (25) a agência para refugiados da ONU (Acnur).

Segundo William Spindler, porta-voz do Acnur, há registros de que 327,8 mil migrantes tenham cruzado o Mediterrâneo este ano. Em 2015, o fluxo superou 1 milhão de pessoas, com 3.771 mortes no ano inteiro.

"Esse é, de longe, o pior que já vimos no Mediterrâneo", afirmou Spindler. "No ano passado foi registrada 1 morte a cada 269 chegadas; em 2016, a probabilidade de mortes aumentou drasticamente, para 1 a cada 88", disse. "Podemos dizer que a taxa de mortalidade aumentou três vezes."

Na semana passada, a Folha publicou uma reportagem sobre o resgate de migrantes vindos da África, na costa da Líbia, e mostrou o drama e as condições de quem tenta chegar à Europa pelo mar.

André Liohn

O grande fluxo de migrantes que cruzam o Mediterrâneo é alimentado por conflitos em diferentes países, como a guerra civil da Síria, que já se arrasta por cinco anos e levou ao êxodo de milhões.

O ano de 2016 viu episódios dramáticos em que grandes botes naufragaram, matando centenas de pessoas de uma só vez na região. Em uma semana, em junho, mais de 700 morreram em apenas três naufrágios.

Traficantes de pessoas agora enviam, da Líbia à Itália, milhares de pessoas em inseguros botes infláveis, talvez para reduzir os riscos de eles próprios serem pegos, mas ao mesmo tempo complicando o trabalho das equipes de resgate.

"O tráfico se tornou um negócio de grandes proporções e está sendo feito quase que em escala industrial. Então, agora eles mandam vários botes ao mesmo tempo e isso coloca os serviços de resgate em dificuldade, porque eles precisam resgatar milhares de pessoas em centenas de barcos", disse Spindler.

"E quando você tem tantas pessoas no mar em embarcações pouco resistentes ao mar, então o perigo obviamente aumenta."


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