Folha de S. Paulo


Em último debate, Trump não diz se vai aceitar resultado da eleição

"É agora ou nunca", dizia um e-mail da campanha de Donald Trump, antecipando a batalha final entre o republicano e a democrata Hillary Clinton, nesta quarta-feira (19).

Antes de o terceiro debate entre os dois começar, um aliado brincava que Trump ressuscitaria o "Celebrity Deathmatch", programa da MTV no qual famosos, em versão animada, se matavam no ringue.

O banho de sangue não aconteceu, e o confronto teve algo que ninguém mais parecia esperar deste pleito: discussão sobre políticas concretas e menos picuinhas dignas de tabloide.

Num dos momentos mais nervosos, o mediador perguntou se Trump aceitaria o resultado das eleições, como seu candidato a vice, Mike Pence, prometeu fazer. O republicano respondeu que "examinará o caso quando a hora chegar".

Segundo pesquisa CNN/ORC realizada após o debate, 52% dos entrevistados consideram que Hillary venceu o confronto —para 39%, foi Trump o vitorioso.

Veja os bastidores do debate

"Toda vez que Donald não tem o que dizer, ele diz que é armado contra ele", afirmou Hillary. "Ele não ganhou o Emmy por três anos para o programa dele, ele tuíta que o Emmy é manipulado", continuou, arrancando risos da plateia. "Deveria ter ganhado", devolveu Trump, que pode perder a eleição, mas não a piada.

O debate foi tenso. Pela primeira vez, os candidatos não se cumprimentaram nem na abertura nem no fim do encontro. Enquanto no início Hillary parecia desorientada, o republicano começou mais centrado —mas depois foi o Trump de sempre. Quando a democrata disse que ele sonegava imposto, seu adversário a interrompeu com uma ofensa: "Que mulher nojenta". Antes, já a havia chamado de "mentirosa".

A polarização direita versus esquerda voltou à arena, com os candidatos divergindo sobre tópicos como aborto, porte de armas e imigração —Trump disse querer expulsar os "'hombres' malvados", Hillary lembrou que ele já empregou imigrantes ilegais.

Comendo poeira nas pesquisas, acusado de bolinar mulheres e abandonado por republicanos envergonhados de seu candidato, Trump viria com sangue nos olhos, apostavam especialistas.

O moderador Chris Wallace, da rede de televisão conservadora Fox News, citou um discurso que Hillary deu para o Itaú em 2013, com trechos vazados pelo WikiLeaks. Nele, apoiava o livre comércio.

Trump agradeceu a lembrança. Ele adora recordar como ela defendia acordos comerciais e hoje, ante um eleitorado mal-humorado com a ideia de outros países roubando empregos americanos, trata-os como uma praga.

A ex-secretária de Estado se esquivou acusando o WikiLeaks de receber ajuda de hackers russos, e Trump de ser uma marionete de Vladimir Putin. A simpatia pelo presidente do país que por anos travou a Guerra Fria com os EUA esquentou o debate. "Não conheço Putin. Ele disse coisas gentis sobre mim. Se nos dermos bem, seria bom", rebateu o republicano, que em 2013 sediou seu Miss Universo em Moscou e tuitou: "Será que Putin vai? Caso sim, ele vai virar meu melhor amigo?".

Quando o moderador evocou as mulheres que disseram ter sido abusadas por Trump, ele chamou de "ficção". "Nem pedi desculpas à minha mulher porque não fiz nada."

Hillary lembrou: ele já insinuou que elas sequer estariam à sua altura. "Disse [sobre uma]: 'Ela não seria minha primeira escolha'".

Trump citou doações que a Fundação Clinton recebeu de países como Arábia Saudita, "que tratam mal mulheres".


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