Folha de S. Paulo


Temer deve usar Olimpíada para desfazer mal-estar com Japão

O presidente Michel Temer desembarca nesta semana em Tóquio com a missão de desfazer o mal-estar deixado pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Será a primeira visita de um líder brasileiro desde 2006, compromisso que deveria ter sido cumprido por Dilma, mas foi cancelado duas vezes.

A primeira desistência, em meio aos protestos e manifestações de junho de 2013, irritou tanto o governo japonês quanto diplomatas brasileiros em Tóquio, que ficaram sabendo pela imprensa, a apenas uma semana da data marcada.

A gota-d'água para os japoneses foi o segundo cancelamento, no final de novembro passado, também dias antes da visita.

A presidente decidiu encurtar sua turnê internacional por causa do agravamento da crise política, após a prisão do ex-senador Delcídio do Amaral pela Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras.

Beto Barata/Presidência da República
O presidente Michel Temer cumprimenta o premiê japonês, Shinzo Abe, durante cúpula do G20 na China, em setembro
O presidente Michel Temer cumprimenta o premiê japonês, Shinzo Abe, em cúpula do G20 na China

A desfeita azedou de vez as relações com um país em que o planejamento é feito com meses de antecedência —e implica gastos com reservas de hotel, refeições, transporte e outros serviços.

Poucas semanas antes, a presidente já havia deixado o príncipe Akishino esperando 20 minutos por uma visita em Brasília.

Michel Temer também contribuiu com o clima de mal-estar ao não receber o primeiro-ministro Shinzo Abe no encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio, no final de agosto.

Embora o presidente negue, a ausência foi atribuída ao medo de mais vaias, como a que recebeu na abertura do evento.

PONTE

A experiência olímpica, no entanto, deve refazer a ponte entre brasileiros e japoneses. Os Jogos são considerados importantes para que o Japão dê um impulso em sua economia, estagnada há três décadas, e reforce sua força política na Ásia.

Sob o slogan "From Rio to Tokyo", o Brasil tentará capitalizar a realização de um evento de porte sem incidentes graves.

A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, se declarou impressionada com as instalações provisórias dos Jogos cariocas.

Koike foi eleita prometendo baixar os custos olímpicos para 2020 e impedir a construção de "elefantes brancos" —um deles, o estádio de Tóquio, teve sua construção paralisada depois que o custo do projeto foi considerado excessivo.

Brasileiros que conhecem bem a diplomacia japonesa afirmam que o Brasil precisará fazer também um gesto de humildade para que as relações entre os dois países voltem aos trilhos.

Para aparar as arestas, a diplomacia brasileira tem tratado a viagem de Temer como "o primeiro encontro bilateral de sua gestão", ainda que o presidente brasileiro tenha se reunido com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Goa.

Em Tóquio, o presidente será recebido pelo imperador Akihito, na manhã de quarta-feira (19). A primeira-dama Marcela não poderá estar presente, já que sua contraparte, a imperatriz Michiko, estará fora.

Depois, Temer se reúne com o primeiro-ministro japonês e o casal deve ser recebido em jantar.

Os dois líderes, que se encontraram pela primeira vez em Hangzhou (China) durante reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), devem discutir a reforma do Conselho de Segurança da ONU —ao lado da Alemanha e da Índia, Brasil e Japão pleiteiam fazer parte do órgão como membros permanentes.

O ministro das Relações Exteriores, José Serra, não irá participar da viagem. Ele será representado pelo secretário-geral do Itamaraty, Marcos Galvão.

Do lado econômico, o Brasil tentará abrir o mercado japonês para seus produtos (principalmente commodities minerais e alimentos) e atrair investimentos em infraestrutura.


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