Folha de S. Paulo


Após morte do rei da Tailândia, herdeiro encara tarefa desafiadora

O príncipe herdeiro da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, enfrenta uma tarefa desafiadora como sucessor ao trono do país depois que seu pai adquiriu status semidivino, em uma nação que passou por profundas mudanças nos 70 anos de reinado do rei Bhumibol Adulyadej.

O príncipe Vajiralongkorn é o herdeiro do trono depois da morte do muito amado rei da Tailândia, que causou pesar em todo o país do Sudeste Asiático. Para a maioria dos tailandeses, Bhumibol foi o único rei que conheceram.

Sukree Sukplang-5.mai.2010/Reuters
Thailand's Crown Prince Maha Vajiralongkorn waves to well-wishers who had gathered to see King Bhumibol Adulyadej before he departed to the Grand Palace from Siriraj Hospital to take part in his coronation anniversary ceremonies in Bangkok, Thailand May 5, 2010. REUTERS/Sukree Sukplang/File Photo TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: AAL103
O príncipe Maha Vajiralongkorn, em foto de arquivo

O rei Bhumibol reafirmou a influência da monarquia sobre um sistema político dominado pelos militares, e ganhou estatura como símbolo de continuidade durante décadas de rápido desenvolvimento econômico e turbulência política.

O príncipe Vajiralongkorn, 64, ainda não atrai adoração semelhante à que o rei Bhumibol recebia dos tailandeses, e manteve grande discrição ao longo da maior parte de sua vida adulta. Isso mudou de 2014 para cá, quando ele passou a cuidar de porção maior das tarefas do monarca, substituindo seu pai doente.

A criação de organizações assistenciais em áreas rurais, e o dinheiro doado a elas pelo rei, tornaram Bhumibol muito querido da população. A cobertura da mídia sobre o príncipe se concentrou nos seus casamentos e divórcios.

O príncipe, como seu pai, está protegido contra críticas públicas pelas leis de lesa-majestade da Tailândia, que já resultaram em sentenças de prisão de até 30 anos por supostos insultos à monarquia. As leis na prática restringem severamente as reportagens negativas sobre a família real da Tailândia.

A vida pessoal do príncipe Vajiralongkorn e sua competência como possível monarca vêm sendo objeto de especulações pelos tailandeses comuns e observadores externos, protegidos contra o rigor da lei tailandesa.

Ele assumirá o trono em um momento tumultuado para a Tailândia e sua monarquia.

As forças armadasderrubaram um governo eleito em 2014 e impuseram calma política a um país dividido por uma década de conflitos entre a elite monárquica, apoiada pelos militares, e forças políticas populistas.

A rivalidade política começou quando Thaksin Shinawatra, que se tornou conhecido como magnata das telecomunicações, assumiu o poder em 2001, se definindo como "o primeiro-ministro CEO". Thaksin decidiu confrontar a velha guarda e fez inimigos poderosos, entre os quais o general Sonthi Boonyaratglin, que se tornou comandante do exército em 2005.

Sonthi liderou o golpe que tirou Thaksin do poder em 2006, acusando-o de corrupção e de representar ameaça à monarquia. Thaksin negou que tivesse desrespeitado a instituição real.

Em outubro de 2008, a divisão criminal da Suprema Corte encarregada de julgar casos contra os detentores de cargos políticos decidiu que Thaksin havia abusado de seus poderes como primeiro-ministro para ajudar sua mulher a adquirir terras públicas em um leilão, e o sentenciou a dois anos de prisão.

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O príncipe Vajiralongkorn nasceu em 28 de junho de 1952 e é o segundo filho do rei Bhumibol —o único menino entre os quatro filhos do rei e da rainha Sirikit.

Ele estudou em escolas privadas do Reino Unido e da Austrália, e se formou no Royal Military College Duntroon, em Camberra.

Os alunos de Duntroon recordam o príncipe, conhecido pelo apelido "Vaji" quando estudava na instituição, como alguém que encarava com disposição o duro treinamento militar, e não recebia tratamento especial.

Em um exercício, o príncipe, carregando a arma às costas, se emaranhou nas cordas de um obstáculo. Seu guarda-costas tentou ajudá-lo a se desvencilhar, mas foi impedido por quatro oficiais, que disseram que os cadetes tinham de se virar sem ajuda, contou, contou Bob Breen, aluno de Duntroon e hoje executivo da Podmore Foundation, uma instituição educacional australiana.

De acordo com a biografia oficial do príncipe, ele está habilitado a pilotar helicópteros e jatos de combate, e combateu insurgentes comunistas na Tailândia, nos anos 1970. Detêm patentes honorárias como general, almirante e marechal da força aérea.

Perguntado sobre a pressão que seu papel acarreta, em um documentário da BBC em 1979, ele disse que "desde o primeiro segundo de minha vida" havia sido príncipe, e que não conhecia outra existência.

"É difícil dizer como é ser um peixe se você é peixe, ou como é ser um pássaro se você é pássaro", ele disse. "Há coisas boas e coisas ruins. Não sou especial".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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