Em sua primeira viagem internacional após deixar a Presidência argentina, em dezembro de 2015, Cristina Kirchner exacerbou a divisão ideológica na América do Sul.
Alvo de denúncias de corrupção, Cristina está isolada politicamente em seu país, agora comandado pelo governo de centro-direita de Mauricio Macri.
No Equador do esquerdista Rafael Correa, porém, ela foi recebida com pompa nesta quinta-feira (29). No primeiro dia de viagem, a ex-dirigente foi condecorada no Congresso Nacional.
Cristina discursou por cerca de 50 minutos e disse que a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe da direita que talvez tivesse sido detido em outra época, quando a esquerda predominava na região.
"Talvez, em outro momento, isso [o impeachment] não tivesse acontecido, porque a relação de forças existente no continente poderia ter impedido", afirmou.
Para a ex-mandatária, é inegável o avanço da "ordem neoconservadora na região".
AFP | ||
Ex-presidente Cristina Kirchner em Buenos Aires, em agosto |
Seu anfitrião e aliado, Correa também fez referência à mudança de direção política na América do Sul e disse que Cristina, Dilma e Lula são vítimas da direita.
"É uma grande honra receber uma mulher icônica na América Latina como Cristina, vítima da judicialização da política —como Dilma e Lula também o são— nessa nova estratégia da direita de acabar com os líderes progressistas. Eles, porém, não conseguirão."
Como já havia feito anteriormente, Cristina aproveitou para se comparar com a ex-mandatária brasileira.
"Houve tentativas durante meus dois períodos como presidente. A direita restauradora dos velhos privilégios e dessa América Latina mera exportadora de matérias-primas, com milhões de excluídos, tentou um final para mim similar ao de Dilma."
Segundo o jornal "La Nación", o embaixador argentino no Equador, Luis Juez, não aprovou a visita de Cristina e afirmou que ela não merecia a condecoração. "Ela vai fazer o que não pode na Argentina, onde passa pelo tribunal."