Folha de S. Paulo


Megaoperação marcará funeral de Peres; Serra participará de cerimônia

Um dos maiores esquemas de segurança da história de Israel foi montado para o velório, nesta quinta (29), e o funeral, nesta sexta (30), do ex-presidente, ex-premiê de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres, morto na quarta (28), aos 93 anos.

A operação será a maior desde o enterro do ex-premiê Yitzhak Rabin, assassinado em novembro de 1995, e contará com milhares de policiais, soldados e agentes do serviço secreto (Shin Bet).

Gali Tibbon/AFP
Caixão com o corpo de Shimon Peres é disposto em Jerusalém para velório nesta quinta-feira
Caixão com o corpo de Shimon Peres é disposto em Jerusalém para velório nesta quinta-feira (29)

O primeiro desafio será o velório, marcado para esta quinta no Knesset, o Parlamento em Jerusalém, onde Peres atuou por quase meio século. A expectativa é que milhares de pessoas façam fila para prestar homenagens ao líder, último da geração dos fundadores de Israel e que se tornou um dos estadistas mais queridos do país.

O segundo e mais complicado evento será o enterro, nesta sexta. Mais de 80 autoridades internacionais já confirmaram presença no cemitério do Monte Herzl, onde estão enterrados os principais nomes da política do país, incluindo Rabin e a também ex-premiês Golda Meir (1898-1978). Peres será enterrado ao lado de Rabin.

Entre os principais líderes que confirmaram presença estão Barack Obama (EUA), Angela Merkel (Alemanha) e François Hollande (França). O presidente Michel Temer não vai à cerimônia e será representado pelo chanceler José Serra, que viajaria na noite de quarta (28) para Israel.

"Enfrentamos um evento complexo que requer coordenação extraordinária", disse a ministra da Cultura, Miri Regev, que chefia o comitê de cerimônias oficiais.

ÁRABES

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também vai ao enterro de Shimon Peres. Ele enviou uma carta de condolências à família de Peres expressando tristeza e escreveu em rede social que a morte do israelense era "uma perda para a a humanidade e para a paz na região". Nenhum outro governante do mundo árabe-muçulmano emitiu comunicado lamentando a morte.

Peres ganhou o Nobel da Paz de 1994 pelos Acordos de Oslo (1993), maior tentativa até hoje de solução do conflito entre israelenses e palestinos. Até os lideres de Jordânia e Egito, os únicos países do Oriente Médio que firmaram acordos de paz com Israel, não se pronunciaram.

Já o grupo islâmico palestino Hamas, que controla a faixa de Gaza, não escondeu a satisfação. "O povo palestino está feliz com partida desse criminoso envolvido no derramamento de sangue dos palestinos", disse o porta-voz Sami Abu-Zuhri.

REPERCUSSÃO

Diversas mensagens de personalidades internacionais lembraram de Peres. Obama afirmou que ele "era guiado pela visão da dignidade humana e progresso".

Já o ex-presidente Bill Clinton o classificou de "gênio com grande coração", e François Hollande disse que Israel perdera um "ardente defensor da paz".

Em Israel, o luto tomou conta do país, que passou o dia lembrando e analisando os feitos de Peres. Se, por um lado, alguns enfatizaram as atividades em prol da paz, outros lembraram que Peres apoiou a construção das primeiras colônias israelenses na Cisjordânia, após a Guerra dos Seis Dias (1967).

"Quando conheci Peres, no começo dos anos 70, ele era um falcão (direitista) banal, a meu ver, apoiando colonos", disse o escritor israelense Amós Oz. "Ele mudou diante dos meus olhos para ser um entusiasta e teimoso crente no paz entre Israel e palestinos e a paz entre Israel e os árabes".

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu divulgou um vídeo com palavras de despecida de Peres –o qual derrotou nas eleições-gerais de 1996 para o cargo de premiê. Ele demonstrou emoção ao contar que admirava Peres desde a Operação Entebbe (Uganda), de salvamento de reféns de um sequestro de avião, em 1976. Peres era o ministro da Defesa que deu sinal verde para a operação, na qual o único morto entre os soldados israelenses foi o irmão de Netanyahu, Yoni.


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