Folha de S. Paulo


Saída britânica da UE segue incerta três meses após decisão pelo 'brexit'

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, repetiu nesta quinta-feira (22) que o Reino Unido precisa deixar a União Europeia até o início de 2019. Ele se reuniu durante o dia com Theresa May, a premiê britânica.

Mas, três meses após o Reino Unido ter decidido sair do bloco no referendo de 23 de junho (o chamado "brexit"), há poucos detalhes a respeito de como e quando o tal divórcio será consumado.

Os procedimentos só vão ter início de fato quando May, que assumiu o cargo em 13 de julho, acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa —que trata do processo formal de separação do bloco.

Justin Tallis/AFP
A premiê britânica, Theresa May, cumprimenta o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz
A premiê britânica, Theresa May, recebe em Londres o líder do Parlamento Europeu, Martin Schulz

Ela já deixou claro que isso não vai ocorrer neste ano, mas não há uma data específica. Depois de apertado o botão de ejetar, as negociações para a saída vão tomar aproximadamente dois anos.

"Ao votar para sair da União Europeia, o povo britânico pediu ação", disse May na terça-feira (20) durante a Assembleia Geral da ONU. A premiê afirmou, ainda, que o Reino Unido não vai se isolar da comunidade internacional e será um parceiro "forte" e "confiável".

Nesta quinta, o chanceler Boris Johnson disse que o país iniciará no ano que vem o trâmite para sair do bloco. "Não acho que vamos precisar nem de dois anos inteiros, mas vejamos", afirmou.

Quando começarem, os debates serão complexos. A separação envolve uma série de questões fundamentais, como tratados comerciais ou a situação de cidadãos europeus dentro do Reino Unido.

Países como Polônia e Hungria já adiantaram que vão vetar qualquer acordo que não preserve a livre circulação de trabalhadores.

Ademais, apesar de previsto na regras do jogo, é inédito que uma nação deixe a União Europeia, bloco econômico que reúne 28 países.

O restante da Europa também tem negociado seu futuro sem os britânicos. Em 16 de setembro, líderes europeus se reuniram informalmente em Bratislava, na Eslováquia, pela primeira vez sem incluir o Reino Unido.

POLÍTICA

Houve uma série de reviravoltas políticas relevantes à dinâmica do "brexit" desde o voto. A renúncia do então premiê David Cameron, por exemplo, que foi anunciada no dia seguinte ao referendo.

Johnson, um dos líderes da campanha pelo "brexit", tornou-se chanceler. David Davis, outro dos entusiastas da saída, é agora o ministro para o "brexit".

A dinâmica é curiosa, pois May era uma das defensoras da permanência do Reino Unido na União Europeia.

O partido de extrema-direita Ukip, articulador do referendo, também foi afetado. Nigel Farage, seu líder, renunciou e foi trocado em 16 de setembro por Diane James.

Uma das preocupações em torno do "brexit" eram seus possíveis impactos desastrosos à economia local e mundial. Mas, por ora, indicadores econômicos não confirmam o apocalipse previsto, apesar de algumas pioras.

PARA BAIXO

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) revisou a previsão do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) britânico em 2016 de 1,7% a 1,8%. O valor para 2017, no entanto, caiu de 2% a 1%.

O Banco da Inglaterra cortou a taxa de juros de 0,5% para 0,25% em agosto. O valor foi mantido em setembro. O banco afirma que o "brexit" criou um "desafiador período de incerteza e ajuste".

Por sua vez, a libra esterlina, moeda britânica, tem se desvalorizado desde o "brexit". Hoje, vale US$ 1,3. Um ano atrás, valia US$ 1,57.

No plano externo, o Reino Unido tem sondado outros países a respeito de acordos comerciais. Na cúpula do G20, na China, o governo britânico aventou a possibilidade de tratados com países como Índia e Coreia do Sul.


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