Folha de S. Paulo


Tensão racial e protestos elevam pressão sobre policiais dos EUA

Sean Rayford/Getty Images/AFP
Kerr Putney, chefe de polícia de Charlotte, fala à imprensa
Kerr Putney, chefe de polícia de Charlotte, fala à imprensa

Após duas noites de protestos violentos deflagrados pela morte de um cidadão negro em Charlotte, no Estado da Carolina do Norte (sudeste dos EUA), o governo declarou estado de emergência na cidade nesta quinta (22), e a polícia intensificou sua presença para evitar nova escalada nos distúrbios.

Manifestantes estavam nas ruas na noite desta quinta, mas não havia registro de violência. A prefeitura da cidade decretou um toque de recolher a partir da 0h desta sexta (23), com validade até as 6h.

Um homem que ficara gravemente ferido durante os confrontos de quarta morreu na noite desta quinta, confirmou a polícia de Charlotte.

Gerry Broome/AP
Loja danificada após protestos na madrugada de quinta (22) em Charlotte
Loja danificada após protestos na madrugada de quinta (22) em Charlotte

Somada às manifestações ocorridas em Tulsa (Oklahoma, no meio-oeste) em repúdio à morte de outro negro pela polícia na última sexta-feira (16), a revolta em Charlotte inflamou a tensão racial no país, já alta após uma série de confrontos entre negros e forças de segurança nos últimos meses.

A menos de dois meses da eleição presidencial, a turbulência logo virou tema da campanha, com o candidato republicano, Donald Trump, afirmando que os EUA vivem uma "crise nacional" causada pelas divisão racial e defendendo o uso de uma controversa prática policial conhecida como "stop and frisk" (parar e revistar), pela qual a polícia é autorizada a revistar pessoas que considera suspeitas.

Os protestos em Charlotte eclodiram na noite de terça (20), depois que Keith Lamont Scott, 43, foi morto com um tiro pelo policial Brentley Vinson, também negro, em meio a buscas por suspeito.

A polícia diz que Scott segurava um revólver antes de ser atingido, enquanto amigos e familiares da vítima afirmam que ele tinha apenas um livro nas mãos.

Os distúrbios em Charlotte atravessaram a madrugada de quinta e incluíram saques e vandalismo, que foram respondidos com gás lacrimogêneo pela polícia.

Tiros foram ouvidos durante os distúrbios e um manifestante caiu baleado gravemente. Inicialmente ele fora dado como morto pelas autoridades, que mais tarde corrigiram a informação, dizendo que seu estado é crítico.

Outros nove civis e dois policiais ficaram feridos. Ao menos 44 pessoas foram presas.

Pela manhã, os manifestantes haviam se dispersado e durante o dia as autoridades afirmaram que a cidade voltara ao normal. Mas comerciantes relataram que Charlotte, maior cidade da Carolina do Norte, com 800 mil habitantes, parecia uma "cidade fantasma".

VÍDEO

Sob pressão para divulgar o vídeo do incidente que gerou os protestos, o chefe da polícia de Charlotte, Kerr Putney, disse que as imagens seriam mostradas à família de Scott, mas não ao público.

Com base no vídeo, Putney disse que não é possível comprovar se Scott tinha revólver, mas manteve a versão inicial.

"O vídeo não me dá evidência absoluta, definitiva e visual que confirmaria que uma pessoa está apontando uma arma", disse, mas a "totalidade das outras evidências" comprova a versão inicial.

O advogado da família de Scott também afirmou, na noite desta quinta, após assistir ao vídeo, não ser possível dizer se Scott estava com um revólver.

Scott foi o terceiro negro morto pela polícia na última semana. Autora do disparo que matou Terence Kutcher, 40, em Tulsa, na sexta (16), a policial Betty Shelby foi acusada formalmente de homicídio culposo (sem intenção de matar). Após examinar vídeos do incidente, a Procuradoria chegou à conclusão de que Shelby "reagiu de forma irracional, causando escalada no confronto com Crutcher" depois que ele não respondeu verbalmente, mas se afastava com as mãos para o alto.

REVISTA

Reagindo à violência em Charlotte, Donald Trump defendeu em evento de campanha a ampliação para grandes metrópoles do país da estratégia policial de "parar e revistar", que é controvertida na comunidade negra.

Considerada no passado eficiente no combate ao crime em Nova York, a prática foi abolida pelo atual prefeito da cidade, Bill de Blasio, após ser contestada na Justiça em diversas ocasiões.


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