Folha de S. Paulo


Assad culpa os Estados Unidos pelo colapso do cessar-fogo na Síria

Entrevista com Assad

O ditador sírio Bashar al-Assad afirmou, em entrevista à agência Associated Press publicada nesta quinta-feira (22), que os EUA são responsáveis pelo colapso do cessar-fogo que havia sido firmado com a Rússia e entrado em vigor na segunda (12).

"Dissemos que estávamos comprometidos a aceitar qualquer tipo de trégua, mas o problema não é a Síria ou a Rússia; são os Estados Unidos e as facções terroristas associadas ao Estado Islâmico", disse o ditador."

Ele também afirmou que o recente ataque aéreo americano a tropas sírias, que deixou mais de 60 mortos no sábado (17), foi "definitivamente intencional", rejeitando o argumento de Washington de que o episódio foi acidental.

"Foram quatro aviões atacando posições de soldados sírios por quase uma hora, ou um pouco menos que isso. Você não comete um erro por mais de uma hora", disse à agencia norte-americana. "Qualquer coisa que funcionários americanos falam sobre o conflito na Síria não tem credibilidade."

A guerra na Síria, agora em seu sexto ano e que já deixou até 400 mil mortos, deve se prolongar, segundo Assad, devido ao apoio externo a seus oponentes. Os EUA, além disso, "não têm vontade" de se juntar à Rússia no combate à facção terrorista Estado Islâmico.

Questionado sobre se o regime tem usado força desproporcional na repressão aos rebeldes, ele afirmou: "Quando você tem [à sua frente] terroristas, você não joga balões contra eles ou usa cassetetes. Tem de usar armas."

Assad negou que aviões sírios ou russos tenham atingido na segunda (19) o comboio de ajuda humanitária a Aleppo, num ataque que provocou 20 mortes.

"Esse comboio estava em área sob controle dos terroristas. (...) Não temos ideia do que aconteceu."

Omar Haj Kadour/AFP
Caminhão que fazia parte de comboio de ajuda humanitária na Síria atingido por bombas aéreas
Caminhão que fazia parte de comboio de ajuda humanitária na Síria atingido por bombas aéreas

O ditador afirmou também que ainda possui apoio da população síria —na capital, Damasco, há poucos sinais evidentes da guerra que assola outras regiões do país.

"Você não pode resistir por cinco anos contra o Ocidente, os Estados do Golfo [Pérsico], as mais fortes corporações de mídia pelo mundo, se não tiver o apoio de seu próprio povo."

Em resposta a Assad, um dos porta-vozes do Departamento de Estado dos EUA, John Kirby, afirmou que "é difícil pensar como tão ridículas alegações merecem resposta, exceto para dizer que elas provam mais uma vez em que nível Assad perdeu legitimidade para governar".

NOVOS BOMBARDEIOS

Dezenas de sírios foram mortos, durante a noite de quarta (21) e a madrugada desta quinta (22), no setor de Aleppo sob domínio dos rebeldes durante ataques aéreos descritos por moradores como um dos mais intensos dos últimos meses.


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