Folha de S. Paulo


Minas terrestres são desafio ao processo de pacificação na Colômbia

Fredy Builes - 19.nov.2015/Reuters
Colombiana a serviço de organização britânico-americana caça minas em Antioquia
Colombiana a serviço de organização britânico-americana caça minas em Antioquia

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, aproveitou a estadia em Nova York nesta semana, durante a Assembleia Geral da ONU, para começar uma campanha de arrecadação de fundos internacionais para um dos mais importantes desafios do chamado "pós-conflito".

Caso o acordo de paz entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) seja de fato aprovado no plebiscito do próximo dia 2 de outubro, um dos compromissos assumidos pelo governo e pela guerrilha, pelo menos no papel, é livrar a Colômbia das minas terrestres.

Segundo o Acnur (Alto Comissionado das Nações Unidas para os Refugiados), o país latino-americano é o segundo no mundo com o maior número delas instaladas, ficando apenas atrás do Afeganistão. Estima-se que existem ainda minas prontas para explodir em mais de 60% do território colombiano.

"Livrar o campo de minas é o único modo de garantir que os "desplazados" (população deslocada de suas terras pela violência) sintam-se seguros para voltar para suas casas", disse o secretário de Estado John Kerry, após encontro com Santos em que anunciou que seu país destinaria US$ 26 milhões (R$ 83 milhões) para o projeto.

A Colômbia também é uma recordista no número de refugiados internos, com cerca de 8 milhões de pessoas que abandonaram seus locais de origem na zona rural por conta do conflito entre Farc, Exército e paramilitares.

Esse êxodo dos camponeses para as cidades está relacionado não apenas aos enfrentamentos da guerra e às extorsões praticadas pela guerrilha, mas também por conta do perigo das minas terrestres, que destroem caminhos, plantações e prejudicam a chegada de abastecimento e ações do Estado.

DESMEMBRADOS

Segundo dados oficiais, nos últimos 25 anos, as minas terrestres já vitimaram 11.408 pessoas, causando feridas e desmembramentos de diversos níveis. Destas, 2.255 morreram. Mais de 40% dos atingidos eram civis não envolvidos no conflito.

Nas ruas do centro de Bogotá, uma das cidades que mais recebem "desplazados" do conflito, é comum ver pessoas que perderam algum membro do corpo pedindo esmola.

Só que a conta para livrar o território colombiano das minas é altíssima. O governo estima precisar de cerca de US$ 300 milhões (R$ 960 milhões). Além dos EUA, nos últimos dias anunciaram aportes ao esforço os governos da Noruega (um dos mediadores do conflito), da Suíça, da Holanda, do México, da Espanha, da Nova Zelândia, do Chile, da Argentina e do Uruguai. Ao todo, chegou-se a US$ 87 milhões (R$ 278 milhões) –ainda é menos de um terço do necessário.

Raul Arboleda/AFP
Time de soldados do Exército colombiano vítimas de minas em jogo de vôlei sentado no último domingo
Time de soldados do Exército colombiano vítimas de minas em jogo de vôlei sentado no último domingo

Segundo Álvaro Jiménez, coordenador da Campanha Colombiana Contra Minas, os artefatos elaborados pelas Farc têm particularidades que dificultam sua identificação.

"Como são artesanais, usam menos metal, o que dificulta localiza-los", afirma. Por isso, completa, "fixar uma data exata para quando conseguiríamos terminar esse trabalho é muito difícil".

Até aqui, a detecção e destruição das minas era realizada pelo Exército colombiano e por entidades associadas de voluntários do país e estrangeiras, mas, desde que o acordo foi finalizado em Havana, alguns guerrilheiros já começaram a colaborar também neste esforço.

ATÉ 2021

O governo estima que até 2021 a tarefa pode ser completada, mas para isso precisa que as Farc cumpram sua parte no acordo e forneçam informações mais completas sobre onde instalaram os artefatos.

Se o documento for de fato aprovado, assim que a guerrilha for transferida para as chamadas "zonas de segurança", onde começarão a devolver as armas e a entregar-se à Justiça especial, terão 30 dias para realizar os relatórios sobre seus armamentos e bens.

Espera-se que, daí, também venham mais informações sobre as localizações das minas. O acordo prevê, ainda, que ex-guerrilheiros desmobilizados que, nos próximos dois anos, ajudem a desminar o território e em outros projetos de reparação às comunidades recebam um bônus em dinheiro ao final do período.


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