Folha de S. Paulo


Acusado de ataques a bomba nos EUA tinha diário em que elogiava Bin Laden

A Justiça americana formalizou na noite desta terça-feira (20) a acusação contra o afegão naturalizado americano Ahmad Khan Rahami, 28, que inclui uso de armas de destruição em massa e bombardeio de locais públicos, relacionadas aos ataques a bomba do sábado (17) em Nova Jersey e no bairro de Chelsea, em Nova York —que deixou ao menos 31 feridos.

Os investigadores federais revelaram a existência de um diário escrito a mão por Ahmad, no qual ele manifestava o desejo de "matar infiéis" e seu repúdio ao "massacre" que teria sido cometido pelos Estados Unidos contra muçulmanos no Afeganistão, Iraque, Síria e Palestina. Ele também elogiava Osama bin Laden e a rede terrorista Al Qaeda.

"Se Deus quiser, os sons das bombas serão ouvidos nas ruas. Tiros à sua polícia. Morte à sua opressão", escreveu Ahmad, que chegou aos EUA quando tinha sete anos de idade.

Ed Murray/NJ Advance Media via AP
Ahmad Khan Rahami is taken into custody after a shootout with police Monday, Sept. 19, 2016, in Linden, N.J. Rahami was wanted for questioning in the bombings that rocked the Chelsea neighborhood of New York and the New Jersey shore town of Seaside Park. (Ed Murray/NJ Advance Media via AP)
Ahmad Khan Rahami, acusado de realizar atentados em Nova York, é detido após troca de tiros

Junto ao diário, uma página manchada de sangue continha referências a Anwar al Awlaki, clérigo americano-iemenita morto em um ataque de drone em 2011 e propagandista da rede Al Qaeda na Península Arábica; e Nidal Hasan, psiquiatra do Exército que atirou contra colegas na base Fort Hood, no Texas, matando 13 pessoas.

DENÚNCIA DO PAI

O pai de Ahmad denunciou à polícia há dois anos que seu filho, nascido no Afeganistão, poderia ser um terrorista. A denúncia então gerou uma investigação do FBI (polícia federal americana), informaram autoridades americanas nesta terça.

Mohammad Rahami procurou a polícia depois de o filho ser preso acusado de esfaquear o irmão. Depois, porém, o pai disse aos agentes que o jovem estaria apenas andando com más companhias.

À época, o FBI não encontrou nenhuma evidência conectando Ahmad a grupos terroristas e encerrou a investigação semanas depois. Ele também não foi indiciado pelo esfaqueamento do irmão.

Questionado por repórteres nesta terça se Ahmad era um terrorista, Mohammad afirmou: "Não. E o FBI, eles sabem disso."

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, afirmou que os ataques "de fato aparentam ter sido um ato terrorista".

A informação da investigação de 2014 do FBI emerge enquanto Ahmad está preso, com fiança estipulada em US$ 5,2 milhões, acusado de tentar matar policiais durante o tiroteio que terminou com sua captura na segunda. Ferido na perna, ele seguia hospitalizado nesta terça-feira.

ASPIRAÇÕES TERRORISTAS

A revelação dos contatos do pai de Ahmad com o FBI levanta questões sobre se haveria algo mais que as forças de segurança poderiam ter feito há dois anos para determinar se o jovem afegão naturalizado americano tinha aspirações terroristas.

O tema também foi discutido depois do massacre de Orlando, em junho, quando o diretor do FBI, James Comey, afirmou que agentes haviam investigado anos antes o americano Omar Mateen, 29, que matou 49 pessoas na boate gay Pulse. Comey dissera que não havia sido encontrada informação suficiente para prosseguir com a investigação de Mateen.

No caso de Ahmad Khan Rahami, as autoridades disseram que o FBI abriu uma "avaliação", a forma menos intrusiva de investigação do órgão. O Departamento de Justiça restringe os tipos de ações que os agentes podem tomar nesse caso: não é permitido, por exemplo, gravar ligações telefônicas sem obter aprovação em nível elevado.


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