Folha de S. Paulo


Farc iniciam conferência para discutir acordo de paz na Colômbia

Com a presença da cúpula das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e mais de 200 representantes dos 9.000 soldados ainda ativos na guerrilha, começa neste sábado (17) a décima, e provavelmente a última, conferência geral da organização.

Até líderes e combatentes que se encontravam presos foram liberados pela Justiça, a pedido do governo, para poder participar do evento, que ocorre em um acampamento nos Llanos del Yarí, em San Vicente del Caguán, departamento de Caquetá (sul), um dos que ainda têm presença muito ativa da guerrilha.

A agenda do encontro terá algo de festivo, pois haverá shows de artistas nacionais populares, como Totó la Momposina.

Mas o objetivo é apresentar, para aprovação de todos os presentes, os itens do acordo de paz a que chegaram, em Havana, os negociadores da guerrilha e do governo. É pouco provável que o texto seja rejeitado.

John Vizcaino/Reuters
Guerrilheiro passa diante de palco montado para a conferência das Farc, em San Vicente del Caguán, no sul da Colômbia
Guerrilheiro passa diante de palco montado para conferência das Farc, em San Vicente del Caguán (sul)

"A conferência deve ratificar o acordo, estamos fazendo uma pedagogia com os guerrilheiros que vai garantir sua aprovação. Depois, a ideia é formular nossa estratégia política no pós-conflito", disse à Folha Carlos Antonio Lozada, um dos líderes da guerrilha.

Caso o acordo seja aprovado em plebiscito, no dia 2 de outubro, as Farc terão garantidas nas duas próximas legislaturas do Congresso dez vagas (cinco na Câmara e cinco no Senado).

As próximas eleições serão em 2018. Porém, até lá, as Farc já terão voz no Congresso, uma vez que três de seus integrantes farão parte de uma Comissão Legislativa Especial, formada no dia seguinte ao plebiscito, cujo objetivo será tratar da integração das Farc à vida política.

"Nas outras conferências planejávamos ações militares, mas nesta estamos focados em aprofundar a democracia na Colômbia", disse outro dos líderes das Farc, conhecido como Pastor Alape.

LOGÍSTICA

A conferência tratará também da logística do abandono dos locais de atuação da guerrilha. O primeiro passo será o deslocamento de seus integrantes até as chamadas "zonas de segurança".

Trata-se de 20 acampamentos, cuja localização foi determinada pelo governo, em regiões afastadas de grandes centros. Neles, os guerrilheiros terão movimentação restrita e serão vigiados por mais de 18 mil soldados do Exército e por observadores da ONU.

Num primeiro momento, estarão ainda armados. O programa de desarmamento durará 180 dias. Uma vez desarmadas, as Farc temem ser alvo de grupos inimigos e colocaram a preocupação com sua segurança física entre as prioridades do acordo.

Na quinta (15), o presidente Juan Manuel Santos disse que não voltará a ocorrer com as Farc o que houve nos anos 1980, com o partido conhecido como União Patriótica.

Formada logo após uma tentativa de acordo entre o então presidente Belisario Betancur e a guerrilha, a União Patriótica teve 3.000 de seus membros assassinados, a maioria por paramilitares.

O general Javier Flórez explicou que "cada 'zona de segurança' terá uma área equivalente a dois quarteirões, de onde os guerrilheiros só podem sair com autorização, desarmados e em roupas civis".

Das "zonas de segurança", os ex-guerrilheiros que não tenham pendências com a Justiça serão, aos poucos, liberados. Os demais serão encaminhados aos tribunais especiais, onde serão julgados.

O governo calcula que as Farc possuem 20 mil armas. Mas a oposição pede uma contagem mais rigorosa, pois considera que a guerrilha estaria deixando armamento escondido nas terras que permanecem em seu poder.

O encontro das Farc também tratará do tema dos dissidentes. Já foram reportados vários casos de guerrilheiros abandonando suas frentes por não quererem se submeter aos tribunais especiais.


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