Folha de S. Paulo


No quinto dia de trégua na Síria, ajuda não consegue chegar a Aleppo

No quinto dia do cessar-fogo estabelecido na Síria, a ajuda humanitária destinada a cidade de Aleppo ficou presa na fronteira turca, com facções rivais discutindo como deve ser a entrega dos mantimentos e episódios de violência que minam a frágil trégua.

O fornecimento de ajuda àquela que era a maior cidade síria antes da guerra é um teste crítico para o cessar-fogo, intermediado por Estados Unidos e Rússia na segunda-feira, com o objetivo de reanimar as negociações sobre o fim do conflito.

O acesso humanitário a Aleppo depende do controle da estrada principal para a área dominada pelos rebeldes sitiados na cidade, dividida entre forças do governo e insurgentes que têm lutado para derrubar o ditador Bashar al-Assad. A chamada estrada Castello se tornou uma enorme linha de frente do conflito.

A Rússia afirmou que o Exército sírio começou a retirar-se da estrada nesta quinta-feira (15), mas grupos rebeldes disseram não ter visto nenhum movimento e não irão deixar suas posições na estrada até que isso ocorra.

"Pela manhã nada aconteceu na estrada Castello... Não há nada novo em Aleppo", disse Zakaria Malahifji, do grupo rebelde baseado em Aleppo Fastaqim à Reuters.

O Kremlin afirmou nesta sexta-feira que está usando sua influência para fazer com que o Exército da Síria implemente totalmente o acordo de cessar-fogo, e espera que os Estados Unidos também façam uso de sua influência com os grupos rebeldes.

Yang Zhen/Xinhua
Soldado do regime sírio caminha em meio a escombros em Aleppo nesta segunda (12), dia de início do cessar-fogo
Soldado do regime sírio caminha em meio a escombros em Aleppo nesta segunda (12), dia de início do cessar-fogo

O governo da Rússia emitiu os comentários depois de ser indagado sobre as acusações dos rebeldes sírios de que o Exército não recuou de suas posições nos arredores da estrada de Castello, que leva a Aleppo, o que impediu o início da entrega de ajuda humanitária à cidade.

"Recriminações mútuas estão sendo feitas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta sexta-feira.

Centenas de manifestantes das aldeias xiitas de Nubul e al Zabra –localizadas em territórios controlados pelo governo– se dirigiram à Estrada Castello com o objetivo de bloqueá-la e obstruir a passagem de caminhões de ajuda, afirmou uma organização que monitora o conflito.

O Observatório Sírio para Direitos Humanos disse que os manifestantes tentam impedir a chegada de ajuda na parte leste de Alepp até que haja garantias de que os mantimentos também seriam enviados para as aldeias xiitas sitiadas de Kefraya e al-Foua, cercada por insurgentes desde abril 2015.

As Nações Unidas, que afirmam ter pedido ao governo da Síria permissão para alcançar todas as áreas sitiadas, tem manifestado frustração crescente nos últimos dias com o fracasso das autoridades do país em permitir o acesso.

"Para realmente iniciarmos o movimento destes comboios (para áreas sitiadas) precisamos das cartas de facilitação. Eles não vieram", disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório da ONU de Assuntos Humanitários.

"É altamente frustrante... e, claro, instamos as autoridades e todas as pessoas com influência sobre essas autoridades para empurrar para essas letras para materializar o mais rápido possível."

Dois comboios de ajuda têm esperado desde o início na terça-feira na fronteira turca permissão para viajar para a Síria. Um porta-voz da ONU disse que o primeiro comboio de caminhões estava carregando farinha para mais de 150 mil pessoas, enquanto o segundo estava carregando rações alimentares para 35 mil pessoas durante um mês.

Cerca de 300 mil pessoas estariam vivendo em Aleppo oriental, enquanto mais de um milhão vive na metade ocidental, controlada pelo governo sírio.

Diante disso, a Rússia se mostrou disposta a prolongar a trégua por mais 72 horas.

FRÁGIL CESSAR-FOGO

Forças do governo e rebeldes acusam-se mutuamente de violar a tréguas das hostilidades, embora o Departamento de Estado afirme que o cessar-fogo está funcionando em várias partes do país. Neste quinta-feira morreram os primeiros civis desde o estabelecimento da trégua desta semana.

Confrontos violentos se verificaram a leste da capital da Síria, Damasco, nesta sexta-feira. Residente do centro da cidade foram acordados por uma grande explosão, disseram testemunhas.

O Observatório Sírio disse que a violência resultou de confrontos entre rebeldes e forças do governo sírio e seus aliados no distrito Jobar, na periferia leste da capital, em meio a um esforço do governo para avançar na área.

Estados Unidos e Rússia têm dado apoio a lados opostos na guerra, que já matou cerca de 300 mil pessoas e forçou milhões a deixarem suas casa e a Síria, provocando a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.


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