Folha de S. Paulo


Em alta nas pesquisas, Donald Trump contém tom incisivo

Um Donald Trump contido e focado como raras vezes na atual campanha presidencial americana foi aplaudido de pé nesta segunda (12), após discursar em conferência da Guarda Nacional em Baltimore, no Estado de Maryland.

Diferentemente do que seu histórico faria esperar, o candidato republicano não citou a pneumonia de Hillary Clinton, embora antes tenha questionado várias vezes se a adversária tinha saúde para ser presidente.

Em vez disso, a plateia em Baltimore viu uma versão mais disciplinada de Trump, que deixou de lado os histriônicos improvisos habituais e se ateve ao discurso escrito, numa indicação de que começa a fazer efeito o esforço de sua nova equipe por uma imagem "presidencial".

Ele nem sequer usou o termo "Hillary trapaceira com que invariavelmente costuma se referir à adversária, mas não deixou as críticas de lado, concentrando-se nos deslizes da democrata. O alvo principal foi o discurso feito por Hillary na última sexta, no qual ela afirmou que metade dos simpatizantes é "deplorável", incluindo "racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos e islamofóbicos".

No dia seguinte, Hillary soltou um comunicado lamentando a declaração.

Em Baltimore, Trump usou a generalização para reforçar uma das mensagens centrais de sua campanha, a de que Hillary é a candidata das elites, tem rabo preso com o mercado financeiro e perdeu a empatia com as classes mais baixas.

"Fiquei profundamente chocado e alarmado nesta sexta ao ouvir minha oponente atacar, caluniar, difamar e rebaixar essas pessoas maravilhosas e incríveis que apoiam a nossa campanha", disse. "Essas são as pessoas que a Hillary Clinton demonizou de modo tão perverso".

ALÉM DA BASE

Em recuperação nas pesquisas de intenção de voto, a menos de dois meses da eleição, Trump tenta ampliar seu eleitorado além de seu principal bloco de apoio, a classe média baixa branca.

Nas últimas semanas, ele teve encontros com líderes das comunidades afroamericana e hispânica, visitou uma igreja negra de Detroit e seus discursos passaram a incluir apelos diretos às minorias.

Criticado pela retórica "divisiva" por propostas como vetar a entrada de muçulmanos no país, o bilionário adotou em Baltimore um incomum tom inclusivo, com promessas de justiça social e acenos às minorias.

"Nossa campanha é para dar voz aos que não têm voz", disse. "Somos a campanha dedicada a melhorar as condições para todo trabalhador afroamericano e hispânico."

Fora do centro de convenções de Baltimore, quinta cidade mais negra dos EUA (65%), um grupo de afroamericanos se reuniu para dizer que Trump não era bem-vindo.

"Ele é um racista que só pensa em si próprio", disse Donca'fields, 39, segurando um cartaz com um xingamento impublicável a Trump.


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