Folha de S. Paulo


Cidade afetada por terremoto cogita processar 'Charlie Hebdo' por charges

A cidade italiana de Amatrice está cogitando processar o semanário satírico francês "Charlie Hebdo" devido a uma charge que mostra vítimas de um terremoto como tipos de massa, e por outra que insinua que a máfia tem culpa pelo saldo de mortes de quase 300 pessoas.

Uma charge, intitulada "Terremoto Estilo Italiano", mostra um homem calvo de pé e coberto de sangue com a legenda "penne ao molho de tomate", uma mulher gravemente ferida perto dele como "penne au gratin" e pés saindo de pisos de um edifício desmoronado de "lasanha".

Reprodução
Charlie Hebdo publicou o cartoon na edição de 31 de agosto
Cartoon do "Charlie Hebdo" satirizando as vítimas do terremoto que deixou 292 mortos na Itália

Após a reação revoltada dos italianos, o semanário, famoso por suas charges provocadoras e desafiadoras, publicou uma segunda charge que mostrou uma pessoa parcialmente soterrada pelos escombros dizendo: "Italianos... não foi o Charlie Hebdo quem construiu suas casas, foi a máfia!"

Após os terremotos de 1980 na região de Nápoles e de 2009 em Áquila, o mau uso de verbas e suspeitas de corrupção em contratos de reconstrução foram alvo de investigações do governo italiano.

A cidade de Amatrice, lar do molho "matriciana", foi arrasada pelo tremor que deixou 281 mortos. O governo local classificou as charges como "um insulto macabro, sem sentido e absurdo às vítimas", disse Mario Cicchetti, advogado da prefeitura de Amatrice, à Reuters.

O governo pediu que um promotor local investigue o "Charlie Hebdo" por "difamação grave", um crime para o qual a prefeitura poderá solicitar indenizações civis. No ano passado, 12 pessoas foram mortas a tiros na redação do "Charlie Hebdo" em Paris por militantes islâmicos que acusaram a revista de blasfêmia por publicar charges do profeta Maomé.

O "Charlie Hebdo" não respondeu de imediato a um pedido de comentário.


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