Folha de S. Paulo


Com novo protesto, oposição aumenta pressão contra Maduro na Venezuela

A oposição venezuelana iniciou um novo protesto nesta quarta-feira (7) nas principais cidades do país para pressionar por um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro. O presidente também convocou seus seguidores a sair às ruas, em um novo teste de forças que aumenta a tensão.

Fortalecida pela grande passeata de 1º de setembro, a oposição liderada pela Mesa da Unidade Democrática (MUD) convocou um protesto das 24 sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que amanheceram fechadas e fortemente protegidas pela polícia.

Ronaldo Schemidt/AFP
Manifestantes protestam pedindo referendo para revogar mandato de Nicolás Maduro na Venezuela
Manifestantes protestam pedindo referendo para revogar mandato de Nicolás Maduro na Venezuela

"Temos que fazer algo, o voto e o protesto pacífico são as únicas armas que temos. O governo controla quase todos os poderes e não faz mais do que inventar para evitar o revogatório", afirmou Rosmina Castillo, de 52 anos, em Los Teques, a 30 km de Caracas, onde manifestantes se reuniram diante de um mercado desta cidade do estado de Miranda (norte), que é governada pelo líder opositor Henrique Capriles.

Perto das sedes do CNE foram montadas plataformas do governo.

"Não vamos cair em provocações", declarou o porta-voz da MUD, Jesús Torrealba.

REFERENDO

A oposição exigirá do CNE, que acusa de ser aliado do governo, que acelere o referendo. Ao mesmo tempo, Maduro acusa os opositores de buscarem a violência e um golpe de Estado.

"Os violentos, os fascistas, os golpistas, (estão) cada vez mais isolados. Nós, cada vez mais unidos", afirmou na terça-feira à noite o presidente socialista, eleito em 2013, após a morte de Hugo Chávez, para um mandato de seis anos.

Maduro, que enfrenta um nível de impopularidade de quase 75% de acordo com pesquisas de institutos privados, minimizou a passeata de 1º de setembro ao afirmar que não reuniu mais do que 30.000 pessoas. A MUD calculou a presença em um nível "histórico" de 1,1 milhão de manifestantes.

"Vive em outro planeta. Zombam da paciência do povo, por isso vamos nos mobilizar e dar nesta quarta-feira uma demonstração de civismo. O que vai acontecer se continuarem com a brincadeira? Uma explosão social", afirmou Capriles.

VÁLVULA DE ESCAPE

A oposição considera o referendo uma "válvula de escape" ao mal-estar e angústia dos venezuelanos com a escassez de quase 80% dos alimentos e remédios, assim como pela maior inflação do mundo, que o FMI projeta em 720% para este ano.

Maduro atribui a crise à queda dos preços do petróleo e ao que chama de "guerra" econômica de empresários e políticos de direito que, segundo ele, pretendem instalar um governo neoliberal fiel aos Estados Unidos, após 18 anos.

A MUD acusa o CNE de adiar o processo para que o governo ganhe tempo: se o referendo acontecer até 10 de janeiro de 2017 e Maduro perder, novas eleições presidenciais serão convocadas; caso a votação aconteça depois desta data, mesmo que o mandato seja revogado ele será substituído por seu vice-presidente.

O governo afirma que não acontecerá um referendo em 2016 porque a oposição iniciou os procedimentos de maneira tardia, por conta de conflitos internos.

"Não há nenhuma possibilidade, talvez em março", repete o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.

Para acelerar o processo, a oposição exige que o CNE fixe a data e as condições para a coleta de quatro milhões de assinaturas (20% do padrão eleitoral), necessárias para que o referendo revogatório seja convocado.


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