Folha de S. Paulo


Militares aposentados criticam política de Obama e anunciam apoio a Trump

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, divulgou nesta terça (6) uma carta de apoio com a assinatura de 88 generais da reserva, numa resposta aos questionamentos sobre sua capacidade de ser o comandante-em-chefe dos Estados Unidos.

A carta reforça a mensagem de Trump de que o poderio militar americano ficou mais fraco durante o governo de Barack Obama e que a candidata presidencial democrata, Hillary Clinton, não tem credibilidade para chefiar as Forças Armadas.

"Nos últimos oito anos, as Forças Armadas americanas foram sujeitas a uma série de cortes de orçamento imprudentes e debilitadores, decisões políticas e operações de combate que deixaram os soberbos homens e mulheres de farda menos capazes de desempenhar suas missões vitais no futuro do que precisamos que eles sejam", diz o manifesto.

"Por este motivo, nós apoiamos Donald Trump e seu compromisso de reconstruir nossas Forças Armadas, proteger nossas fronteiras, derrotar nossos adversários islâmicos supremacistas e restaurar a lei e a ordem domesticamente. Exortamos nossos compatriotas americanos a fazerem o mesmo."

A menção aos "supremacistas islâmicos" se encaixa no discurso de Trump que critica Obama e Hillary constantemente por não usarem o termo "terror islâmico radical" quando falam dos autores de atentados inspirados por fundamentalistas islâmicos. Obama já disse que não usa o termo "islã radical" para não dar legitimidade a líderes terroristas como os do Estado Islâmico.

A carta dos generais também inclui uma crítica a Hillary, considerada cúmplice de Obama no "esvaziamento" militar dos EUA. Hillary comandou a diplomacia de Obama em seu primeiro mandato como presidente (2009-2013).

Um dos signatários da carta, o general William G. Boykin, foi criticado pelo então presidente, George W. Bush, por descrever o combate ao terrorismo como uma guerra religiosa entre cristãos e muçulmanos.

"Como líderes militares da reserva dos EUA, nós acreditamos que uma mudança só pode ser feita por alguém que não esteve profundamente envolvido e foi substancialmente responsável pelo esvaziamento de nossas Forças Armadas e as ameaças emergentes que nosso país enfrentam ao redor do mundo", afirmam.

As declarações bombásticas de Trump sobre segurança nacional e política externa ao longo da campanha fizeram com que muitos especialistas colocassem em dúvida seu temperamento e discernimento para comandar o maior Exército do mundo, incluindo em seu partido.

Algumas das ideias mencionadas pelo bilionário, como diminuir o papel dos EUA na Otan (aliança militar ocidental), contrariam princípios que nortearam a diplomacia americana nas últimas décadas.

CONTROVÉRSIAS

No mês passado, 50 especialistas em segurança que trabalharam em governos republicanos divulgaram uma carta de repúdio a Trump, alertando que ele seria "o presidente mais imprudente da história dos EUA".

Também não pegou bem entre os militares a alfinetada de Trump no senador e ex-candidato presidencial republicano John McCain, prisioneiro por seis anos na Guerra do Vietnã e que é considerado um herói nacional. "Gosto de pessoas que não foram capturadas", disse Trump.

Alguns dos signatários da carta de apoio a Trump manifestaram reserva a essas e outras declarações do empresário, mas concluíram que ele é a melhor opção. "Ele tem o temperamento para ser comandante-em-chefe", disse o organizador da carta, o general da reserva Sidney Shachnowe, sobrevivente do Holocausto com 40 anos de carreira militar.

A carta é divulgada numa semana em que os dois candidatos participam de um programa de entrevista na TV sobre segurança nacional e dias depois de Hillary ter recebido o endosso de dois generais. Entre os militares que apoiam a ex-secretária de Estado, Trump na Presidência é perigo certo.

"Não vejo uma visão estratégica. Só o que vejo é a desconstrução de uma estrutura que trouxe paz e mais estabilidade no mundo nos últimos anos do que jamais tivemos. Se essa estrutura desmoronar, ninguém sabe quais serão as consequências", disse o general da reserva Wesley Clark.


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