Folha de S. Paulo


Para analistas, revés em eleições regionais alemãs afeta pouco Merkel

A um ano das eleições gerais na Alemanha, previstas para setembro de 2017, a chanceler Angela Merkel definitivamente não vive seu melhor momento.

Ela enfrenta críticas por sua política para refugiados, e a crise migratória é uma das razões da ascensão do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) nas eleições legislativas estaduais.

4.set.2016/AFP
A chanceler alemã, Angela Merkel, participa da cúpula do G20 em Hangzhou, na China
A chanceler alemã, Angela Merkel, participa da cúpula do G20 em Hangzhou, na China

Na última delas, no domingo (4), a sigla superou o partido da chanceler, a conservadora CDU (União Cristã Democrata), no Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e ficou em segundo lugar.

O resultado foi ainda mais simbólico por se tratar do Estado pelo qual a chanceler se elegeu deputada, em 1990. "É o começo do fim da era Merkel", afirmou a vice-líder da AfD, Beatrix von Storch.

No entanto, ainda que com turbulências e seu pior índice de aprovação (45%) em cinco anos, Merkel é favorita para se reeleger a um quarto governo (não há limite de mandatos no país) caso confirme sua candidatura, apontam cientistas políticos alemães ouvidos pela Folha.

ELEIÇÕES NA ALEMANHA - Intenções de voto para a eleição federal de set.2017, em %

ECONOMIA - Crescimento do PIB (em %)

REFUGIADOS - Pedidos de asilo (em milhares)

AVANÇO LIMITADO

Apesar do crescimento nos pleitos regionais, a AfD não deve ter a mesma representatividade em nível nacional.

"A AfD tem se beneficiado nas eleições estaduais de 2016 do fluxo em massa de refugiados", diz Klaus Schroeder, da Universidade Livre de Berlim. Em março, o partido conquistou a segunda maior bancada no Parlamento da Saxônia-Anhalt, outro Estado do leste alemão que até 1990 fazia parte da antiga Alemanha Oriental.

A retórica anti-imigração da AfD funciona melhor nesses Estados mais pobres e rurais. O grande teste da legenda serão as eleições de Berlim —que é uma cidade-Estado—, no dia 18. A AfD aparece apenas em quinto lugar nas pesquisas, atrás de SPD (sociais-democratas), CDU, Verdes e Esquerda.

Nacionalmente, ainda prevalece a força da União —como é chamada a coligação da CDU com seu partido-irmão CSU (União Cristã Social), que existe apenas na Baviera, Estado mais rico da Alemanha, no sul do país.

É o que aponta o cientista político Gero Neugebauer. "A União é, apesar das perdas regionais, ainda o partido mais forte em nível nacional e com o maior potencial."

O que pode ser dificultado na próxima eleição federal, diz Neugebauer, é um governo de coalizão com apenas dois partidos. Hoje, a Alemanha é comandada pela União em coligação com o SPD. Na maioria das pesquisas nacionais, a União lidera com 33%, dez pontos percentuais à frente do SPD.

A AfD aparece com entre 12% e 14% nas sondagens mais recentes, empatada com os Verdes em terceiro lugar.

Se até a votação, daqui a um ano, forem mantidos os índices, o partido de Merkel terá perdido quase dez pontos percentuais em relação ao que teve em 2013 (41,5%) e não atingirá o número necessário para governar sozinho.

RUSGAS INTERNAS

Mesmo entre aliados, cresce o descontentamento em relação à política da chanceler para os refugiados, em grande parte depois de uma sequência de atentados em cidades da Baviera, em julho.

No Estado, o governador Horst Seehofer (CSU) defende medidas mais duras para limitar a entrada de refugiados. Essa cisão não é o bastante, porém, para ameaçar a posição da chanceler, diz Schroeder. "Não há dentro da União uma alternativa a ela."


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