Folha de S. Paulo


Hong Kong realiza eleição que pode aprofundar racha com Pequim

Os eleitores de Hong Kong foram às urnas neste domingo (4) nas primeiras eleições ao Parlamento local desde que uma nova geração de ativistas políticos, que surgiu do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014, convocou uma ruptura com o governo da China.

Os candidatos que defendem a independência de Hong Kong do governo de Pequim esperam que o sentimento crescente anti-China na cidade semiautônoma ajude-os a desafiar os rivais pró-Pequim, que contam com fonte muito maior de recursos.

A votação deste domingo permitirá medir o peso deste movimento entre os 3,7 milhões de eleitores. As urnas já fecharam e a contagem será realizada na noite de segunda-feira (5).

Embora as manifestações contra a mão de ferro chinesa sobre a cidade tenham conseguido bloquear durante dois meses bairros inteiros da antiga colônia britânica, o Movimento dos Guarda-Chuvas não conseguiu obter nenhuma concessão da China em matéria de reformas políticas.

O surgimento desta nova geração que defende a independência, contudo, apagou as linhas políticas tradicionais e polarizou o debate eleitoral.

Quando as autoridades da cidade decidiram proibir a candidatura de cinco defensores da ruptura com Pequim, com o argumento de que militar pela independência é ilegal, as contradições aumentaram.

Para muitos moradores de Hong Kong, a independência é uma quimera. "É muito idealista e irrealista", estimou Wilson Vai, 21, que apoia o setor pró-democracia, a oposição tradicional mais moderada.

O chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, que é considerado por seus opositores como um fantoche da China, disse que as eleições são democráticas. "Os eleitores tomarão suas próprias decisões", disse aos jornalistas.

DEMOCRACIA PARCIAL

No início de agosto, vários milhares participaram da primeira manifestação pública pela independência. Segundo algumas pesquisas, até 17% dos cidadãos apoiariam a ruptura com a China.

Alguns candidatos da autodeterminação, termo utilizado para evitar usar a palavra "independência", puderam se apresentar.

Destes, um ou dois têm chances de ser eleitos, o que constituiria uma vitória para um setor que defende um caminho que há pouco tempo era um tabu absoluto.

No entanto, o movimento ainda não alcança uma massa crítica e sua participação depende de um contexto eleitoral que está ajustado para favorecer a institucionalidade favorável à China.

Na antiga colônia britânica, a democracia é apenas parcial e é quase impossível que os partidários da ruptura obtenham uma maioria.

O Conselho Legislativo conta com 70 membros designados por um sistema complexo que garante uma maioria de bloqueio favorável a Pequim. Apenas 35 de seus membros são eleitos por sufrágio direto.

A oposição, com 27 assentos de 70, dispõe atualmente de uma minoria de bloqueio, já que no Parlamento local as leis devem ser aprovadas por dois terços dos votos.


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