Folha de S. Paulo


Canonização de Madre Teresa de Calcutá é controversa

Madre Teresa é santa. Ou não é. Sua canonização, celebrada neste domingo (4) no Vaticano, é controversa.

O processo que lhe alçou ao panteão dos santos é criticado, por exemplo, pela velocidade. Costumam esperar-se cinco anos após a morte do candidato, mas a causa dela começou após apenas dois, com intervenção do papa João Paulo 2º.

Diz-se que o papa pensava canonizá-la imediatamente, mas foi dissuadido por cardeais, temerosos do precedente que isso poderia criar.

Do ponto de vista religioso, seus milagres são contestados. A cura da indiana Monica Bersa, que rezou à freira, é atribuída por céticos a seu tratamento médico, e não à intervenção divina.

Para além do divino, Madre Teresa também desagrada por algumas posições que defendeu em vida. Essa freira fez campanha contra o controle de natalidade e o aborto, ao qual certa feita referiu-se como "um dos grandes destruidores da paz".

Esse é um dos diversos argumentos dos detratores da agora santa, que insistem também que os padrões de higiene e os cuidados médicos na congregação que ela fundou eram inadequados.

Sua figura, em geral recordada pela piedade, é igualmente criticada. O médico Aroup Chatterjee, nascido em Calcutá, critica a missão criada pela freira, dizendo haver em algumas de suas casas um "culto ao sofrimento".

Chatterjee afirmou, ainda, que a freira era uma "criatura medieval da escuridão" e que a imprensa falhou em contestar sua figura mítica.

O ensaísta Christopher Hitchens, conhecido por sua obra em torno do ateísmo, acusa Madre Teresa de ter sido uma "aliada do 'status quo'", além de "fanática".

A freira teria reforçado, para Hitchens, a ideia entre pobres de que sua condição era permanente, em vez de ajudá-los a buscar melhores condições. O ensaísta publicou um livro sobre Madre Teresa em 1995, comparando "teoria" e "prática", dois anos antes de ela morrer.

A seus críticos, a freira deveria ter lutado contra as causas da pobreza, e não contra os seus sintomas.

Na Índia, um país de maioria hindu, Madre Teresa foi acusada de tentar converter pobres ao cristianismo, o que sua congregação nega.

O próprio processo de canonização, e não apenas de Madre Teresa, é envolto em controvérsias. O sistema é acusado de privilegiar causas com apoio de figuras influentes. O grupo conservador Opus Dei, por exemplo, teria pressionado pela canonização de Josemaría Escrivá, seu fundador, em 2002.

O papa Francisco modificou os procedimentos financeiros relacionados ao processo em 2015, por maior vigilância e transparência.


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