O Congresso espanhol recusou nesta sexta-feira (2), mais uma vez, o projeto de governo apresentado pelo Partido Popular. Se o impasse político persistir até 31 de outubro, o país voltará às urnas em dezembro, nas terceiras eleições em um ano.
Às 21h locais (16h em Brasília), o placar foi anunciado, como antecipado: 180 votos contra e 170 a favor. Mariano Rajoy, premiê em exercício, precisava da maioria dos deputados para formar seu governo. Sua sigla, o PP (Partido Popular, conservador), venceu as duas últimas eleições, em dezembro de 2015 e em junho, mas sem os assentos necessários para governar.
Votaram a favor o PP (137 deputados), o Cidadãos (32) e a Coalizão Canária (1). Os partidos espanhóis olham, agora, para os meses futuros. Outros políticos podem ser incumbidos pelo rei Felipe para angariar assentos e formar um governo até 31 de outubro, mas o cenário já parece pouco provável.
O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) receberá a maior parte da atenção, nesses próximos meses. Seu líder, Pedro Sánchez, negou-se a aprovar o governo de Rajoy ou mesmo abster-se da votação e abrir caminho para o rival. Com isso, sai deste processo como um dos responsáveis pela paralisia.
O governo em exercício na Espanha trabalha com uma série de limitações. Não pode, por exemplo, apresentar projetos de lei ou aprovar o seu orçamento para 2017.
O PSOE deve passar, nas próximas semanas, por debates internos a respeito de sua posição. A política de um "não" definitivo a Rajoy pode ser revista, como maneira de evitar novas eleições, que teriam um alto custo político a todas as siglas.
Há descontentamento principalmente entre lideranças regionais e o médio escalão do partido. Pode haver uma reunião formal da sigla para decidir novos rumos.
SIM E NÃO
No Congresso, Sánchez criticou Rajoy antes do voto. "Vocês deveriam tirar uma conclusão do que vai acontecer hoje. Não irão, porque sua verdadeira estratégia é que estão pensando em terceiras eleições", afirmou.
Durante sua intervenção, o líder do PP disse: "Se você persiste em sua política do 'não', 'não' e 'não', permita ao menos que um governo seja formado na Espanha".
Passado o fracasso desta semana, o PP pode reavaliar a candidatura de Rajoy. Há rejeição ao premiê em exercício, e outros partidos votaram contra seu governo devido à sua figura, vista como símbolo de um período marcado por escândalos de corrupção.
Rajoy tentará manter sua imagem em torno da recuperação econômica. O governo espera que o PIB (Produto Interno Bruto) cresça 2,9% neste ano. Mas foi divulgada nesta sexta-feira a maior queda no emprego em um mês de agosto desde 2008, o que não facilita a sua campanha.
Albert Rivera, líder do Cidadãos, criticou tanto Rajoy quanto Sánchez antes do voto. "Assim é difícil chegar a acordos. Nós somos do 'sim'", disse.
Se de fato o país for às urnas pela terceira vez, as eleições a princípio devem ser realizadas em 25 de dezembro, Natal. Há movimentação entre os partidos, porém, para encurtar o período de campanha eleitoral e antecipar o pleito para o dia 18.