Folha de S. Paulo


Latinos que apoiam Trump se dizem conservadores e ridicularizam clichês

No domingo (28), em Anaheim, cidade californiana que sedia uma Disney, meia centena de hispânicos deslanchou a Operação Taco Bowl.

O ato, organizado pelo grupo Latinos por Trump, zombava de reação democrata à foto que o republicano Donald Trump publicou no feriado mexicano Cinco de Mayo: ele comendo a iguaria do país (preparada por um chef irlandês do Trump Tower Grill).

David McNew/AFP
Mulher segura cartaz defendendo apoio dos eleitores latinos ao republicano Donald Trump
Mulher segura cartaz defendendo apoio dos eleitores latinos ao republicano Donald Trump

E-mails vazados pelo WikiLeaks mostram que um dirigente do partido de Hillary Clinton se referiu ao episódio como "a investida taco bowl". Alguns latinos ficaram ofendidos por se sentirem diminuídos a um estereótipo.

Por meses, Trump empolgou plateias maciçamente brancas com promessas de muro e deportação em massa de 11 milhões de imigrantes ilegais, vistos como usurpadores de empregos.

O empresário compartilhou o retrato após os dois últimos rivais nas prévias republicanas saírem da disputa. A legenda sinalizava uma tentativa de se aproximar de 12% do eleitorado americano (27 milhões), fatia similar à dos negros, segundo o Centro de Pesquisa Pew: "Amo os hispânicos!".

REJEIÇÃO

A recíproca não costuma ser verdadeira. O Pew prevê que, na comunidade, Hillary tenha 58% da preferência, Trump, 20%, e Gary Johnson, da terceira via, 13% –Barack Obama conquistou em média sete de cada dez votos latinos em 2008 e 2012.

Mas latinos pró-Trump não são lenda urbana –e sabem fazer barulho. "Meu marido achava que eu estava sendo irracional na minha admiração pelo sr. Trump", diz a colombiana Myriam Witcher, 36, "criada na era de Pablo Escobar e das Farc", em "América Primero y Grande de Nuevo".

No e-book, ela narra como conheceu seu ídolo num comício em Las Vegas, onde mora com o marido texano. Trump citou uma reportagem da "People", que Witcher carregava no dia. "Ele se queixou que haviam alterado seu nariz na fotografia e me viu agitando a revista da primeira fila."

Ela diz à Folha que democratas não entendem que latinos são por essência conservadores, "par perfeito" com republicanos. "Acreditamos nos valores da família."

Na internet, com excesso de exclamações e caixa alta, ela desanca de Hillary ao cantor Ricky Martin, que já chamou Trump de racista ("que papelão, Ricky!").

ECONOMIA

Para muitos latinos já regulares nos EUA, é a economia que mais preocupa –o tema é a prioridade mais citada por eles em sondagem do Pew, seguido por saúde, terrorismo e só então imigração.

Também de origem colombiana, a dona de casa Barbie Peña, 30, diz que muitos hispânicos são a favor do muro que Trump promete construir na divisa com o México. "É uma necessária camada de segurança. Os mexicanos têm um muro no sul [fronteira com Guatemala], então por que não podemos?"

Cidadã americana, Peña questiona: "Me preocupo com a minha gente primeiro. Precisamos dos nossos empregos de volta."


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