Folha de S. Paulo


Em fala sobre imigração após visita ao México, Trump mantém tom duro

Yuri Cortez/AFP
O candidato republicano, Donald Trump, se encontra com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto
O candidato republicano, Donald Trump, se encontra com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto

Horas depois de uma visita-relâmpago ao México, o candidato presidencial republicano Donald Trump fez nesta quarta (31) um esperado discurso sobre imigração em que manteve o tom duro que é uma das marcas de sua campanha, dando poucas indicações do tom mais suave que ensaiava nos últimos dias.

"Vamos construir um muro na fronteira sul. E o México pagará pelo muro. Eles ainda não sabem, mas vão pagar", disse Trump num comício em Arizona, Estado na fronteira com o México. Pouco antes, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, havia dito que deixou claro a Trump que o país não pagará pelo muro.

Em seu discurso, o bilionário disse que há 2 milhões de criminosos estrangeiros nos EUA e que eles serão deportados "no primeiro dia" de seu governo. Mas no programa de dez pontos que apresentou não há menção a uma das propostas que mais repetiu nos últimos meses, e a mais polêmica, de deportar todos os 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA.

Donald Trump abriu sua então desacreditada campanha presidencial, há pouco mais de um ano, com uma bombástica declaração sobre os imigrantes mexicanos, dizendo que muitos eram criminosos e estupradores. Nesta quarta, a convite do presidente do México, Enrique Peña Nieto, que já o comparou a Hitler, o candidato presidencial republicano visitou o país vizinho.

O inesperado encontro gerou promessas de ambos de trabalhar juntos, mas também expôs as diferenças. Duas das principais propostas de campanha de Trump atingem diretamente o México: a deportação de todos os imigrantes ilegais dos EUA e a construção de um muro na fronteira com o país. Metade dos imigrantes sem documentos vem do México.

O convite do presidente mexicano veio em boa hora para Trump, que tenta se recuperar nas pesquisas, a dez semanas da eleição presidencial. Depois do encontro de cerca de uma hora, o bilionário agradeceu o convite, "uma honra", mas reiterou a ideia de construir o muro.

"Nós reconhecemos e respeitamos o direito de qualquer um dos países de construir uma barreira física ou um muro em nossa fronteira, para deter a entrada ilegal de pessoas, drogas e armas", disse Trump. Questionado por repórteres sobre a outra parte de sua promessa, de que o México pagará pelo muro, o candidato republicano foi evasivo. "Não conversamos sobre isso".

Depois, o mexicano o contradisse. Segundo ele, Trump foi avisado de que seu país não arcará com eventuais despesas de uma barreira. Nos debates da TV americana, o bilionário foi ironizado por omitir uma promessa que é uma das marcas de sua campanha. "Quem vai pagar pelo muro?", costuma perguntar em comícios a seu público, que responde em coro: "México!".

Peña Nieto prometeu trabalhar com o próximo presidente americano, seja quem for, mas "com base em respeito mútuo".

O mesmo convite para um encontro foi feito a Hillary Clinton, a rival democrata de Trump na disputa presidencial. Ainda não houve resposta oficial ao México.

Em seu discurso, Trump disse que os EUA tem o direito de escolher os imigrantes que recebe. Para começar, pretende suspender a imigração da Síria e da Líbia (países em guerra civil com áreas dominados pelo movimento terrorista Estado Islâmico). Outra providência com Trump presidente seria um sistema de "certificação ideológica", explicou, "para saber se essas pessoas compartilham os nossos valores e amam nosso povo".


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