Folha de S. Paulo


E-mails usados por Hillary causam dano a campanha da democrata

Um dos maiores fantasmas de Hillary Clinton nesta campanha presidencial, o uso de um servidor privado de e-mails quando era secretária de Estado (2009-2013), promete assombrá-la até a eleição de novembro. Mais de 15 mil e-mails da candidata democrata descobertos pelo FBI (polícia federal) na investigação sobre o caso devem ser revelados na reta final da campanha, mantendo a controvérsia viva e aumentando o potencial de dano político para Hillary.

A divulgação dos e-mails foi ordenada por um juiz federal ao Departamento de Estado e só deve começar em outubro, mas o caso colocou Hillary mais uma vez na mira dos críticos com a revelação de mensagens que reforçam a íntima relação entre seu posto como chanceler e a Fundação Clinton. Criada por seu marido, Bill, a entidade sem fins lucrativos é movida por doações milionárias para projetos de saúde, educação e meio ambiente ao redor do mundo.

Chris Keane/Reuters
A candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton
A candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton

Os novos e-mails foram publicados pelo site conservador Judicial Watch, que foi à Justiça para obtê-los por meio da Lei de Liberdade de Informação dos EUA. As mensagens mostram como os doadores da fundação tinham acesso a Hillary enquanto ela comandava a diplomacia americana.

Alguns exemplos: um agente esportivo e grande doador da fundação pede que Hillary ajude a obter visto de entrada nos EUA para um jogador de futebol britânico com ficha criminal; Bono, vocalista do U2 e colaborador assíduo da fundação, quer contatos na NASA para conversar com um astronauta em órbita durante um show da banda; Doug Ban, íntimo dos Clinton e um dos criadores da fundação, pede a Hillary um encontro com o príncipe herdeiro do Bahrain, "um bom amigo nosso".

MUNIÇÃO PARA TRUMP

Não há prova de troca de favores, apenas de acesso facilitado por meio da fundação, concluiu a maioria dos especialistas. Mas os e-mails dão mais munição ao adversário republicano de Hillary na corrida presidencial, Donald Trump, que há tempos a acusa de ter transformado o Departamento de Estado num balcão de negócios.

Após um ano de investigação, o FBI concluiu que não havia motivo para recomendar o indiciamento de Hillary, mas condenou seu manejo com informações sigilosas "extremamente descuidado". O novo lote de quase 15 mil e-mails foi encontrado pelo FBI nos servidores de Hillary, depois que ela disse ter entregue todos, cerca de 30 mil.

Para Trump, que se refere à rival como "Hillary trapaceira", é preciso fechar a Fundação Clinton e nomear um procurador especial para investigar o caso. "Depois que o FBI e o Departamento de Justiça lavaram as mãos sobre os crimes de Hillary Clinton, eles certamente não são confiáveis para investigar de modo imparcial os novos crimes de Hillary Clinton", disse num comício em Akron, Ohio (meio-oeste).

Se antes as críticas era ao risco que Hillary poderia ter causado à segurança nacional, agora o foco é nas insinuações de que como secretária de Estado ela agiu na base do "toma lá, dá cá" com os doadores. "Os novos e-mails confirmam que Hillary Clinton abusou de seu cargo vendendo favores aos doadores da Fundação Clinton", disse o presidente do Judicial Watch, Tom Fitton.

A campanha da democrata reagiu com ataques ao Judicial Watch, acusando o site de encampar uma cruzada da direita contra Hillary desde os anos 90. Ela afirma que não houve troca de favores. Pelos e-mails divulgados não dá para saber se houve. Dos três pedidos citados, um foi concedido, o encontro com o príncipe herdeiro do Bahrain, Salman bin Hamad Al Khalifa, supostamente por canais oficiais.

Para o cientista político Charles Lipson, da Universidade de Chicago, a revelação de detalhes "constrangedores" do tempo em que Hillary era secretária de Estado podem causar um "dano direto" a sua candidatura, reforçando a imagem de pouco confiável que tem entre a maioria dos americanos. Ele não acha que o escândalo pode ser decisivo na eleição, já que Trump sofre rejeição ainda maior, mas isso pode mudar, dependendo das revelações que os próximos e-mails farão.

"Tem que haver um `smoking gun´ [prova conclusiva]: pode ser uma troca de favores oficiais em troca de doações para a Fundação Clinton, algo ligado à segurança nacional, ou até à sua saúde, que tornou-se uma preocupação maior do público recentemente", disse à Folha.


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