Folha de S. Paulo


Fundação Clinton é um obstáculo para Hillary chegar à Presidência dos EUA

Drew Angerer/Getty Images/AFP
NEW YORK, NY - JUNE 7: (L to R) Husband and former president Bill Clinton and Democratic presidential candidate Hillary Clinton acknowledge the crowd during a primary night rally at the Duggal Greenhouse in the Brooklyn Navy Yard, June 7, 2016 in the Brooklyn borough of New York City. Clinton has secured enough delegates and commitments from superdelegates to become the Democratic Party's presumptive presidential nominee. She will become the first woman in U.S. history to secure the presidential nomination of one of the country's two major political parties. Drew Angerer/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
A candidata democrata Hillary Clinton, junto ao marido, o ex-presidente Bill Clinton, em comício em NY

Se o ditado diz que o maior inimigo do homem é ele mesmo, um dos maiores obstáculos entre Hillary Clinton e a Casa Branca leva seu nome.

A Fundação Clinton foi criada em 2001 para combater do HIV à obesidade, e, de quebra, preservar o legado de Bill Clinton, recém-saído da Presidência. Esse é seu lado bom.

Para rivais, a instituição é um manancial de escândalos -ONG que revela laços do clã com grandes corporações e governos de histórico questionável em direitos humanos.

A proximidade com a elite global seria por si só indigesta para o eleitorado, mas a questão é mais complicada: parte dos US$ 2 bilhões arrecadados pela fundação em 15 anos chegou aos cofres quando Hillary era secretária de Estado (2009-13) de Obama.

O elenco de financiadores contempla governos (Arábia Saudita, Kuait), celebridades (Leonardo DiCaprio, Steven Spielberg), bancos que ajudaram a empurrar os EUA para a crise (Lehman Brothers, Goldman Sachs), grandes empresas (Coca-Cola, ExxonMobil), brasileiros (Itaú Unibanco, Andrade Gutierrez, Lily e Joseph Safra) e até o rival republicano, Donald Trump, ex-amigo dos Clinton.

"A fundação borra os limites entre caridade, negócios, política e serviço público", diz à Folha John Wonderlich, da Fundação Sunlight, que monitora a transparência governamental.

Um dos exemplos é a relação com os países do golfo Pérsico. Após o ataque a uma boate LGBT em Orlando, em junho, Hillary declarou: "Já passou da hora de Arábia Saudita, Qatar e Kuait impedirem seus cidadãos de financiar organizações extremistas".

Trump foi à forra: "Peço que ela devolva imediatamente os US$ 25 milhões, no mínimo, que recebeu [desses países] para sua fundação!".

Só os sauditas enviaram à fundação de US$ 10 milhões a US$ 25 milhões, segundo a ONG (que divulga as ofertas por faixas, sem valores exatos).

O adversário também explora a divergência entre a política dessas nações e os valores defendidos por Hillary. A Arábia Saudita, por exemplo, prevê pena de morte para gays e proíbe mulheres de dirigir.

Em outro exemplo, ao menos 60 companhias que fizeram lobby (atividade legal nos EUA) com o Departamento de Estado sob a batuta de Hillary doaram mais de US$ 26 milhões para a organização.

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Alguns doadores da Fundação Clinton

Governos
Arábia Saudita
Kuait
Omã
Argélia
Noruega
Qatar
Austrália

Empresas
ExxonMobil
General Electric
Microsoft
Coca-Cola

Bancos
J.P. Morgan
Lehman Brothers
Goldman Sachs

Celebridades
Leonardo DiCaprio
Steven Spielberg
Oscar de La Renta (1932-2014)
Donald Trump

Brasileiros
Lily e Joseph Safra
Itaú Unibanco
Santander Brasil
Andrade Gutierrez
Oi Móvel
Confederação Nacional
da Indústria

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Só a ExxonMobil, petroleira que teve aval para novas perfurações na época, deu US$ 2 milhões -fora US$ 16 milhões para outra organização de caridade da democrata.

Ao se tornar chanceler, Hillary prometeu evitar conflitos de interesse. E-mails vazados, contudo, mostram que assessoras da hoje candidata prometeram ajudar um doador nigeriano, ex-consultor de um ditador local já morto.

Para desativar essa bomba-relógio eleitoral, a democrata se comprometeu, na semana passada, a vetar contribuições de estrangeiros caso eleita.

A lei eleitoral americana proíbe doações internacionais –um brasileiro, por exemplo, não pode comprar o boné "Make America Great Again" no site de Trump, já que a renda da mercadoria vai para a campanha do republicano.

Para os críticos, mesmo sem troca explícita de favores, muitos doadores deviam esperar algum retorno ao despejar milhões justamente na Fundação Clinton. Doar para a fundação, portanto, seria um cortejo à possível futura presidente dentro de limites legais, mas nublados.

Aliados rebatem, como o governador da Virgínia, Terry McAuliffe: "Se o maior ataque contra Hillary for ela ter levantado muito dinheiro para caridade, posso aceitar".


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