Folha de S. Paulo


Montagens com menino sírio de Aleppo ganham as redes sociais

A imagem do menino sírio Omran Daqneesh, 5, vítima de um bombardeio na cidade de Aleppo, movimentou as redes sociais com montagens a partir da imagem original.

Duas mostram Omran sentado entre os presidentes americano, Barack Obama, e russo, Vladimir Putin, uma crítica ao jogo de poderes internacionais envolvidos no conflito no país.

Omran entre Obama e Putin

Omran com Obama e Putin

Em outra montagem, Omran está sentado na cadeira reservada para a Síria nas cúpulas da Liga Árabe, muitas vezes criticada por sua inação.

Já na caricatura do sudanês Khalid Albaih, a imagem de Omran aparece ao lado da de Alan, o menino de três anos cujo corpo sem vida em uma praia comoveu o mundo em setembro de 2015 e cuja imagem se tornou símbolo da tragédia dos refugiados sírios.

"A escolha para as crianças da Síria", foi o título dado pelo cartunista, que acrescentou "se você ficar" sob a imagem de Omran, e "se você partir" sob a de Alan.

Cartoon Omran

Outros internautas e partidários do ditador Bashar al-Assad compartilharam, por sua vez, imagens de crianças feridas por tiros rebeldes nos bairros de Aleppo sob controle do governo, observando que civis também morrem e são feridos deste lado.

A foto de Omran "é uma lembrança do horror da guerra e do impacto brutal sobre as crianças", afirmou à AFP Juliette Touma, chefe da comunicação do Unicef para o Oriente Médio e África do Norte.

desenho Omran

PEQUENOS EM RISCO

Na Síria em guerra, além de Omran, milhares de outras crianças vivem traumatizadas pelos ataques aéreos, mutiladas ou prestes a morrer nas cidades sitiadas.

"O caso de Omran não é excepcional. A cada dia, tratamos dezenas de crianças que sofreram ferimentos graves", relatou Abou al-Baraa, cirurgião pediátrico na região de Aleppo.

Em um vídeo filmado pela rede de militantes do Centro de Meios de Comunicação de Aleppo (AMC), o pequeno Omran aparece limpando seu rosto ensanguentado com a mão. Depois olha para sua mão e, sem acreditar, limpa-a em seu assento.

Reuters
A still image taken on August 18, 2016 from a video posted on social media said to be shot in Aleppo on August 17, 2016, shows a boy with bloodied face sitting in an ambulance, after an airstrike, Syria. Social Media ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE. REUTERS IS UNABLE TO INDEPENDENTLY VERIFY THIS IMAGE. TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: SCR01
Imagem do menino Omran, resgatado em Aleppo, comoveu o mundo

Segundo o médico, "há milhares de histórias de crianças amputadas, feridas na barriga ou na cabeça" desde o início da guerra, em 2011.

"Ontem [quinta-feira] mais sete pessoas morreram em um bombardeio em Salhine [bairro rebelde]. Uma criança foi ferida na região do peito e na cabeça. Tivemos que parar a hemorragia e fizemos uma transfusão de sangue", conta Abou Baraa.

"Tudo em vão. Ele morreu. Ia fazer seis anos."

Para o pediatra, a imagem chocante de Omran "não vai mudar nada".

"O mundo olha diariamente fotos e vídeos de crianças resgatadas dos escombros, mas não faz nada. Contenta-se com belas palavras", lamenta.

CONSCIÊNCIA

Segundo o Unicef, um terço das crianças sírias conheceu apenas a guerra. Em um relatório divulgado em março, no início do sexto ano do conflito, a organização destacou que estas crianças "cresceram rápido demais" em um contexto de "violência, medo e desenraizamento".

"Esta imagem deve chacolhar a consciência do mundo", insiste a chefe de comunicação da organização.

Em Aleppo, "as crianças encontram-se na linha de fogo, porque os bombardeios visam ambulâncias, clínicas, abrigos, creches, hospitais e ruas, diz ela, afirmando que 100 mil dos 250 mil habitantes da zona leste de Aleppo são crianças.

No total, o conflito afeta 8,4 milhões de crianças sírias, mais de 80% delas, seja na Síria ou no exílio, de acordo com o Unicef.

"Há 6 milhões de crianças que precisam de assistência humanitária urgente em toda a Síria. E, das 600 mil pessoas que vivem em estado de sítio, metade delas são crianças", de acordo com Touma.

A guerra também privou pelo menos 2,8 milhões de crianças na Síria e nos países de acolhimento de ir à escola, outras são forçadas a trabalhar ou se alistar nas fileiras dos beligerantes como crianças-soldados.

Entre as meninas, muitos são forçadas a se casar cedo.


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