Folha de S. Paulo


Putin recebe Erdogan e cita volta de relações entre Rússia e Turquia

Isolados internacionalmente, Recep Tayyip Erdogan e Vladimir Putin reuniram-se nesta terça-feira (9) em São Petersburgo, na Rússia.

O encontro entre os presidentes da Turquia e da Rússia marca o restabelecimento de suas relações, rompidas desde a derrubada de um caça russo próximo à fronteira com a Síria, em novembro.

Ambos compartilham um crescente desafeto em relação à Europa e aos EUA, com quem têm tido frequentes atritos. No caso da Turquia, a crise dos refugiados e os planos de retomar a pena de morte –abolida ali em 2014– tem causado uma frequente troca de acusações.

Sergei Karpukhin/Reuters
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (à esq.), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reúnem em São Petersburgo
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (à esq.), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin

A Rússia, por sua vez, desagradou com a anexação da Crimeia em 2014, durante a crise política na Ucrânia.

Putin, após apertar a mão de sua contraparte turca, afirmou que a visita durante uma "situação política complicada na Turquia indica que todos nós queremos reiniciar nosso diálogo e restaurar nossas relações".

Rússia, Turquia e Síria

Erdogan disse, antes de reunir-se com Putin, que a Turquia entra em um "período bastante diferente" em suas relações com Moscou e que a solidariedade entre os países ajudará na resolução de questões regionais.

Houve uma tentativa de golpe militar na Turquia em 15 de julho, com mais de 240 mortos. Na sequência, Erdogan promoveu um extenso expurgo no país, com gestos repressivos condenados por diversos líderes estrangeiros.

Desde então o líder turco tem reclamado da falta de apoio a seu governo e da reação apática diante do grave revés político nesse país, com possíveis consequências à segurança de toda a região.

Nesse ponto, Erdogan agradeceu a Putin, um dos primeiros mandatários a telefoná-lo oferecendo apoio.

Para o pesquisador espanhol Marc Saurina Lucini, especializado na Turquia, "há em andamento uma busca por novos atores e novas alianças regionais".

Isso inclui Israel, com quem a Turquia retomou as relações em junho. Os países haviam tido um grave atrito diplomático em 2010, quando a Marinha israelense causou a morte de dez ativistas turcos a caminho da faixa de Gaza, sob bloqueio. Há também, diz, "um discurso público dentro do país sobre a superação do golpe".

Saurina destaca, ainda, as estratégias do governo turco no redesenho de suas relações, inclusive internas. "Há um recurso populista de que uma nova era está começando, o que poderia ser uma maneira de ocultar os próprios problemas", afirma.

Editoria de Arte/Folhapress

COOPERAÇÃO

Apesar da reaproximação, Turquia e Rússia ainda discordam sobre o conflito sírio, um dos temas fundamentais no Oriente Médio. Erdogan é inimigo do ditador Bashar al-Assad, a quem pede que deixe o poder. Putin, no entanto, é hoje o aliado mais poderoso de Damasco.

Essa dinâmica pode ser alterada durante os próximos meses, a depender do diálogo entre Turquia e Rússia. Erdogan poderia oferecer um melhor controle de suas fronteiras ao sul, e Putin poderia diminuir o seu apoio aos curdos, por exemplo.

Enquanto se aproxima da Rússia, a Turquia tem se afastado progressivamente dos EUA. Erdogan acusa o clérigo Fetullah Gülen, exilado nos Estados Unidos, de ter organizado o golpe frustrado. Gülen nega a participação. Na terça-feira, o Ministério da Justiça turco voltou a pedir sua extradição.

O ministro afirmou que o sentimento anti-americano entre os turcos está crescendo e só poderá ser acalmado quando os EUA expulsarem o clérigo, antigo aliado de Erdogan e hoje seu rival.


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