Folha de S. Paulo


Sírios fazem aplicativo para ajudar refugiados com burocracia alemã

Attila Kisbandek - 31.ago.2015/AFP
Refugiados e imigrantes carregam seus celulares na estação ferroviária de Keleti, em Budapeste
Refugiados e imigrantes carregam seus celulares na estação ferroviária de Keleti, em Budapeste

O estudante sírio Ghaith Zamrik, 19, sobreviveu a anos de guerra civil e conseguiu alcançar, em 24 de dezembro passado, a meta de centenas de milhares de conterrâneos: cruzar o Mediterrâneo e chegar à Europa.

Mas, uma vez na Alemanha que o acolheu, Zamrik passou a enfrentar outro monstro: a burocracia. O refugiado conta à Folha que passou meses até entender a que postos de informação tinha de ir, e nesse longo caminho assinou papéis em alemão sem entendê-los.

Agora, aliado a outro refugiado, Zamrik está desenvolvendo um aplicativo para celulares que poderá ajudar recém-chegados —não necessariamente sírios— a entender os trâmites alemães e, assim, facilitar a integração.

"Se esse aplicativo existisse quando eu cheguei, minha vida teria sido mais fácil", diz. O programa deve traduzir a papelada burocrática e explicar, passo a passo, quais são os trâmites necessários para cada situação.

Um mapa ajudará no deslocamento entre escritórios do governo, uma etapa que costuma tomar tempo de imigrantes diante de aparatos burocráticos europeus.

OPORTUNIDADES

O caminho de Zamrik entre a Síria e a Alemanha, como o de outros refugiados, foi longo e árduo. Ele viajou de barco e passou por Líbano, Turquia, Grécia, Macedônia, Sérvia, Eslovênia e Áustria, até estabelecer-se ali.

Mais de 1 milhão de refugiados foram recebidos pela Alemanha em 2015, parte deles fugindo de conflitos como a guerra civil na Síria, em andamento desde 2011.

Zamrik diz ter escolhido migrar à Alemanha porque enxergava, ali, oportunidades para seu futuro. "As pessoas são acolhedoras, apesar de que todo o mundo teve boas e más experiências", diz. "O bom é que há muitas pessoas dispostas a ajudar."

Entre essas pessoas está a ReDI, uma organização alemã que ensina computação a refugiados em Berlim. Zamrik e seu colega, Munzer Khattab, 23, estão desenvolvendo o aplicativo —que chamam de Bureaucrazy— a partir desse aprendizado.

O refugiado hoje estuda alemão e planeja entrar nos estudos preparatórios para a universidade de computação. Na Síria, ele se preparava para estudar engenharia.

O futuro do aplicativo ainda é incerto. A dupla prefere terminar de desenvolvê-lo sozinhos, como começaram, o que levaria a mais um semestre de trabalho.

Caso tenha apoio, pode lançar um protótipo em um ou dois meses. Eles devem tentar arrecadar fundos via "crowdfunding" (espécie de financiamento coletivo, via internet).

O Bureaucrazy, que conta com a equipe de outros quatro refugiados sírios, deve ser gratuito. "A proposta é ajudar as pessoas, e não tirar dinheiro delas", diz Zamrik.


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