Folha de S. Paulo


Saiba o que acontece com os mísseis lançados pela Coreia do Norte

A Coreia do Norte lançou uma saraivada de mísseis, peças de artilharia e foguetes nas águas da sua costa leste, incluindo um míssil balístico de médio alcance que caiu perto das águas territoriais do Japão nesta semana.

Os lançamentos são feitos para testar seus sistemas de armas, expressar irritação em tempos de impasses com a Coreia do Sul e com os Estados Unidos, ou para provar que o país tem capacidade para atacar seus arquirrivais.

Mas pouco se sabe sobre o que acontece com essas armas. Será que elas provocam problemas ambientais no oceano? Alguns países estão tentando recuperar partes dos mísseis para estudá-los?

Eis o que sabemos sobre o destino provável das armas lançadas no mar, que em alguns lugares chegam a 3.000 metros de profundidade ou possivelmente mais.

ONDE OS MÍSSEIS ESTÃO AGORA?

Os mísseis Rodong da Coreia do Norte têm 15 metros de comprimento e a maioria das outras armas que dispararam são mais curtas. Suas partes estão espalhadas no fundo do oceano, e o professor Roh Taeseong, da Universidade Inha da Coreia do Sul, diz que isso "é como jogar grãos de areia no rio Han, em Seul".

Frequentemente, a Coreia do Norte lança seus mísseis a partir de diferentes locais e os dispara rumo a distâncias diferentes, dependendo do que deseja de cada lançamento.

Isso significa que há poucas chances de que os mísseis cheguem à mesma área. Os mísseis norte-coreanos também são conhecidos pela pouca precisão, então é altamente improvável que muitas peças acabem perto umas das outras, mesmo que a Coreia do Norte tenha a mesma área como alvo.

Quando os mísseis atingem o oceano, eles recebem um impacto enorme, que pode fazer com que se quebrem em vários pedaços.

"É como atingir um piso de concreto", disse o analista Chae Yeon-seok, do Instituto de Pesquisa Aeroespacial da Coreia, administrado pela Coreia do Sul. Ele disse que o míssil Rodong lançado na quarta-feira (3) deve ter se partido em mais de dez pedaços.

Alguns outros especialistas dizem que a dimensão do dano pode depender do ângulo do impacto. Mísseis que colidem em ângulos mais retos sofrem menos danos.

A RECUPERAÇÃO DAS PARTES DOS MÍSSEIS

No caso do lançamento de um armamento novo ou particularmente ameaçador, é provável que a Coreia do Sul, os EUA e o Japão busquem seus fragmentos e recolham o que conseguirem.

Algumas partes desses foguetes, particularmente seus primeiros estágios, podem ser bastante grandes. O foguete Unha-3, de três estágios, que a Coreia do Norte usou para enviar um satélite ao espaço em 2012, tinha 30 metros de comprimento.

Mas é praticamente impossível recuperar fragmentos significativos de mísseis menores depois que afundam no mar.

Mesmo que a Coreia do Sul ou outros países recuperassem partes de um míssil Rodong de forma bem-sucedida, é improvável que eles pudessem conhecer algo novo sobre a arma baseada no Scud soviético, que já analisaram durante décadas.

Após o lançamento da quarta-feira, o Japão ainda despachou destróieres e aviões de vigilância P-3C Orion para procurar detritos.

Roh descreveu a medida como um "show político" do governo conservador do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que quer construir forças armadas mais fortes colocando ênfase, junto à população do seu país, na periculosidade dos mísseis norte-coreanos.

NAVIOS PODEM SER ATINGIDOS POR MÍSSEIS NORTE-COREANOS?

É provável que a Coreia do Norte use ogivas falsas quando faz testes de lançamento de mísseis. Eles não vão explodir no momento do impacto, e é estatisticamente muito improvável que os mísseis atinjam um navio, assim o perigo é insignificante.

A Coreia do Norte anunciou zonas de perigo, de acordo com as regras internacionais, ao lançar foguetes para colocar satélites em órbita, mas geralmente não faz isso quando lança mísseis.

Washington, Seul e Tóquio chamam os lançamentos de satélite de teste proibido de tecnologia de mísseis de longo alcance.

OS MÍSSEIS PODEM CAUSAR DANO AMBIENTAL?

Provavelmente não. A maioria dos mísseis norte-coreanos usam propelentes líquidos tóxicos, mas especialistas na Coreia do Sul dizem que os mísseis mais recentes parecem ter caído no oceano depois de queimar todo o combustível. O imenso oceano diluiria qualquer combustível restante.

Os meios de comunicação estatais da Coreia do Norte afirmaram que alguns mísseis recentes continham dispositivos de gatilho para ogivas, para a prática de possíveis ataques nucleares contra a Coreia do Sul. Mas analistas externos dizem que eles provavelmente usaram ogivas falsas sem plutônio nem urânio.

COMO A COREIA DO NORTE AVALIA SEUS LANÇAMENTOS?

Não se sabe como a Coreia do Norte monitora e controla seus mísseis. Analistas na Coreia do Sul dizem que eles devem usar radares para determinar se os mísseis atingem as áreas desejadas.

A melhor maneira seria enviar navios perto da zona de impacto para ver os resultados dos lançamentos, mas não se sabe se a Coreia do Norte faz isso.

POR QUE OS TESTES DE MÍSSEIS DA COREIA DO NORTE SÃO IMPORTANTES?

Qualquer país com forças armadas realiza testes de armas. Os testes da Coreia do Norte são notícia porque o país está desenvolvendo armas nucleares abertamente e deseja colocá-las em mísseis capazes de atingir alvos distantes, como o território dos Estados Unidos.

Sob a gestão do jovem líder Kim Jong-un, que assumiu o poder no final de 2011, a Coreia do Norte lançou armamentos com mais frequência do que no passado.

Reuters-9.abr.16/KCNA
No início de abril o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, assiste a lançamento de míssil
No início de abril o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, assiste a lançamento de míssil

Antes o país muitas vezes utilizou novos mísseis sem testá-los em voo para economizar custos. Pode ter havido a percepção de que os testes de voo não eram necessários, já que seus mísseis eram pequenas reformulações de modelos chineses e russos já provados, de acordo com Kim Seung Jo, professor da Universidade Nacional de Seul.

No início deste ano, a Coreia do Norte sofreu uma série de falhas antes de enviar um novo míssil Musudan, de médio alcance, a mais de 1.400 km de altura. Ele também caiu no oceano.

Tradução de DENISE MOTA


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