Folha de S. Paulo


Trump mira Hillary para superar turbulências com republicanos

Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA, é o homem para "garantir o tipo de liderança que fará a América ser incrível de novo", disse Mike Pence, vice de Donald Trump, nesta quarta (3).

Na véspera, Trump tinha palavras menos amigáveis para o deputado: "Gosto do Paul, mas são tempos horríveis para nosso país. Precisamos de uma liderança forte".

Joe Raedle - 3.ago.2016/Getty Images/AFP
O candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, se prepara para discursar na Flórida
O candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, se prepara para discursar na Flórida

Ao alfinetar uma das vozes mais influentes do partido, em descompasso com seu companheiro de chapa e em aparente reação à hesitação de Ryan em apoiá-lo, o presidenciável republicano tonifica uma ideia que ganha adeptos em sua legenda: ele seria inadequado para governar os EUA, seja pelo temperamento ou pelo preparo.

Comum na boca da rival democrata, Hillary Clinton, a palavra foi usada por Barack Obama em evento na Casa Branca (antes, as críticas do presidente se restringiam a comícios) e por um deputado republicano que desertou.

Colegas bilionários, Warren Buffett e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que disse "reconhecer um vigarista" diante de um, prometeram combater pessoalmente sua candidatura.

Recusar apoio a Ryan e ao senador John McCain (candidato à Casa Branca em 2008), que concorrem à reeleição e já se mostraram reticentes a Trump, é só uma curva da espiral de polêmicas que assola a campanha republicana.

Durante a convenção democrata, Trump dissera que gostaria de "bater muito forte em alguns dos oradores" que falaram contra ele (depois afirmou que não estava sendo literal) e sugeriu à Rússia hackear 30 mil e-mails deletados por Hillary quando era secretária de Estado (ele disse ter sido sarcástico).

Desde o fim do evento, há uma semana, ele:

1) Criticou os pais de um militar muçulmano morto quando combatia em nome dos EUA, país que reverencia veteranos de guerra (dias depois, o "New York Times" publicou que Trump, então um jovem de 1,88 m e histórico atlético, escapou do alistamento militar cinco vezes —na primeira, disse ter esporões ósseos no calcanhar);

2) Foi chamado de "constrangimento nacional" por Richard Hanna, primeiro deputado republicano a declarar voto em Hillary;

3) Viu a democrata recuperar a dianteira perdida dias antes nas pesquisas;

4) Contrariando a máxima política de quanto mais fotos com bebê melhor, pediu a uma mãe que retirasse um neném de seu comício ("Acho que ela acreditou que eu gostaria de ter um bebê chorando enquanto eu falo").

ATAQUE

Para aliados, Trump mostra sua melhor forma quando parte para o ataque a Hillary.

Em vez de esticar a controvérsia com a família do capitão Humayun Khan, deveria investir nos pontos fracos da adversária —como os engasgos da economia sob Obama e a revelação de complôs internos entre os democratas.

Nesta quarta, durante comício na Flórida, Trump parece ter ouvido o conselho e criticou o envio de US$ 400 milhões ao Irã em suposta negociação secreta para libertar quatro americanos presos revelada pelo diário "The Wall Street Journal".


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