Folha de S. Paulo


Apreço de Trump por Putin alimenta debate eleitoral nos EUA

Bromance, neologismo que descreve a amizade forte entre dois homens, é uma palavra na moda para definir a relação entre Donald Trump e Vladimir Putin.

Não há prova de que o presidenciável republicano e o presidente russo se conheçam ao vivo, mas não foram poucas as demonstrações públicas de afeto trocadas.

A proximidade da dupla voltou à tona após a campanha de Hillary Clinton acusar hackers russos de roubarem, a serviço do Kremlin, informações de computadores do Partido Democrata.

Petras Malukas/AFP
Grafite em muro em Vilna, capital da Lituânia, retrata Putin e Trump se beijando
Grafite em muro em Vilna, capital da Lituânia, retrata Putin e Trump se beijando

Nessa tese, a sabotagem seria deliberada: Trump na Casa Branca, afinal, seria "música nos ouvidos de Putin", diz à Folha Paul Christensen, especialista em Rússia do Boston College.

O empresário já sugeriu que reconheceria a anexação da região ucraniana da Crimeia por Moscou em 2014 (ocupação retaliada pelos EUA com sanções econômicas). Depois, sob pressão, recuou e disse que, se fosse presidente, a Rússia não entraria na Ucrânia.

Ele também refutou o alinhamento automático a outros integrantes da Otan (a aliança militar ocidental) sob eventual ataque russo.

"Sem a Otan forte, Putin fica de mãos livres para reconstituir o império soviético. Seria uma reversão total da política externa que os EUA adotam desde a Segunda Guerra", diz Kathleen Bailey, também do Boston College.

E tanto Trump quanto Putin negam ligação com o vazamento de e-mails citando dirigentes democratas em um suposto complô contra o ex-adversário de Hillary nas prévias, Bernie Sanders.

Combustível para o bromance político, contudo, existe, afirma Bailey. "Trump parece nutrir grande admiração pelo autoritarismo do Putin 'decisivo e machão', em contraste ao desdém que tem pela abordagem mais suave do presidente Obama."

O russo, que tinha no ex-premiê italiano Silvio Berlusconi seu mais querido parceiro internacional, mostra apreço por Trump, a quem chamou de "brilhante".

Já com Hillary nunca se deu bem: achava que ela, quando secretária de Estado, tentava interferir demais em Moscou. O período (2009-13) foi marcado por medidas anti-EUA, de proibir a adoção de bebês russos por americanos a expulsar a Usaid (agência americana para o desenvolvimento internacional).

AMIGOS E RIVAIS
A animosidade contra a Rússia está em alta e reflete na ficção. O vilanesco Viktor Petrov, presidente russo na série "House of Cards", emula até o físico de Putin.

Para 48% dos americanos, a ex-rival da Guerra Fria tenta influenciar as eleições americanas, e cerca de 60% têm opinião desfavorável sobre Moscou, segundo pesquisa da CNN.

Para Christensen, mais instigante é a intimidade do estrategista-chefe de Trump, Paul Manafort, com o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovitch.

Tido como marionete do Kremlin, ele foi destituído em 2014, após uma aliança com os russos em detrimento da União Europeia deslanchar motins nacionais. Paul já o assessorou.

"É importante saber se integrantes da campanha de Trump, ou ele próprio, têm conexões com a elite empresarial russa. Até porque é bem sabido que a elite russa não se mantém se não tiver boas relações com Putin."


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