Folha de S. Paulo


Venezuela repudia 'direita extremista' de Brasil, Argentina e Paraguai

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou na noite desta segunda (1º) um comunicado em que denuncia "as artimanhas da direita extremista do sul do continente" para impedir que o país assuma o comando rotativo do Mercosul —bloco que passa por uma de suas maiores crises.

A nota foi publicada após o chanceler brasileiro, José Serra, enviar uma carta a seus pares do grupo na qual diz considerar vaga a presidência do Mercosul "uma vez que não houve decisão consensual a respeito".

Na última sexta (29), o Uruguai informou que havia finalizado seu período à frente do grupo e que não via argumentos jurídicos para não transferir o comando à Venezuela.

Antes mesmo do anúncio uruguaio, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, já havia dito que seu país assumiria o bloco e que a decisão era inadiável.

O Paraguai informou, então, que não aceitava que o governo de Nicolás Maduro liderasse. A Argentina, por sua vez, adotou uma postura mais diplomática e afirmou que nenhum país —não apenas a Venezuela— poderia ficar à frente do Mercosul sem uma transferência oficial da Presidência.

No documento publicado na noite desta segunda, a Venezuela reforça já estar no comando e rejeita a "tese" dos outros países-membros, "sem suporte legal", de que a Presidência está vaga.

'TRÍPLICE ALIANÇA'

O governo de Maduro chama ainda Brasil, Argentina e Paraguai de nova Tríplice Aliança, em uma referência à união entre Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai na guerra do século 19.

"Essa Tríplice Aliança pretende reeditar uma espécie de Operação Condor contra a Venezuela, persegue e criminaliza seu modelo de desenvolvimento e democracia, [em uma] agressão que não hesita em destruir as instituições e a legalidade do Mercosul."

A Operação Condor foi uma aliança entre os governos militares de países da América do Sul, acertada numa reunião em novembro de 1975, em Santiago -com o Brasil passando a fazer parte do bloco logo depois.

Na nota, o governo venezuelano ainda "alerta" à população dos países-membros em relação às "mentiras dos inimigos da integração".

O conflito entre os países se arrasta há alguns meses. Pela regra, a Presidência é transmitida a cada seis meses em ordem alfabética. Por isso, em julho, o Uruguai deveria ter passado a liderança à Venezuela.

Com exceção do Uruguai, os membros são contra Maduro por considerarem que seu governo viola direitos humanos ao manter opositores presos.


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