Folha de S. Paulo


'Freiras maconheiras' levam apoio a Sanders à convenção democrata

Algo não cheira bem, e a irmã Darcy, 28, não se refere ao aroma de maconha que de repente empesteia aquele metro quadrado vizinho à Prefeitura da Filadélfia.

Ela usa hábitos de noviça e se apresenta como freira. Mas, apesar do título eclesiástico, não é filiada a nenhuma ordem da Igreja Católica "nem a qualquer outra religião terrena".

Darcy milita pelo "verdadeiro presente de Deus, a cannabis". No domingo (24), contudo, sua luta era outra.

Anna Virginia Balloussier/Folhapress
As 'irmãs' Darcy, 28, e Kate, 57, que defendem maconha e Bernie Sanders e acham Trump 'um idiota'
As 'irmãs' Darcy, 28, e Kate, 57, que defendem maconha e Bernie Sanders e acham Trump 'um idiota'

Ela transitava num protesto no centro da cidade onde, em poucos dias, Hillary Clinton será oficializada como presidenciável democrata, na convenção nacional do partido.

E Darcy, como a maioria dos manifestantes, não está nada empolgada com a candidata.

"Se Donald Trump ganhar...", ela diz e faz uma pausa para tomar uma limonada do McDonald's. "Acho ele um idiota, um babaca. Mas, se os republicanos vencerem, a culpa vai ser do Partido Democrata."

'CONSPIRAÇÃO'

A freira que xinga e fuma maconha (de um cigarro eletrônico) sempre apoiou o pré-candidato Bernie Sanders e, como tantos devotos do senador, acredita que a cúpula da legenda conspirou para que Hillary o atropelasse nas prévias partidárias.

No mesmo fim de semana, a presidente da legenda renunciou ao cargo após o WikiLeaks divulgar e-mails em que ela e outros dirigentes do partido atacavam o senador.

O episódio foi a prova que faltava para o eleitorado sanderista se convencer que há algo de podre no reino democrata. "O sistema é corrupto, expirou", reclama a irmã.

Darcy anda pela manifestação com um broche verde que traz o nome de Sanders e uma folhinha de maconha.

O senador de 74 anos, que cresceu no Brooklyn e hoje representa o Estado de Vermont, contou a uma audiência do Michigan, em março, sobre sua relação pessoal com a erva.

"Fumei maconha duas vezes na vida, quando era bem moço. E o efeito em mim, bom, me fez tossir bastante. Essa foi minha reação, mas imagino que outras pessoas tenham experiências diferentes."

Kate, 57, é a metade veterana das Irmãs do Vale, como se autointitula a dupla de freiras pró-cannabis sativa (o nome científico da maconha).

DEMOCRACIA REAL

Elas cultivam a erva no jardim de uma casa de três quartos em Merced, Califórnia. Da planta extraem o canabidiol –substância química usada em remédios para combater de artrite a crises epilépticas.

Com a matéria prima, as Irmãs do Vale produzem pomadas e tônicos que, segundo Kate, importam mundo afora, inclusive o Brasil.

Elas publicaram em seu site um vídeo em que interagem com potenciais consumidores, com "Party in the USA", de Miley Cyrus, na trilha sonora.

Kate, uma militante pela "real democracia", é famosa desde que a mídia local começou a chamá-la de "freira maconheira, vegana e feminista" (rótulos que ostenta com orgulho).

A popularidade começou depois de ela participar do Occupy Califórnia, movimento contra o "1%" que tomou os EUA no final dos anos 2000.

A crítica contra essa fatia da população (a elite e as grandes corporações), que drenaria a riqueza dos 99% restantes, é uma constante nos discursos de Sanders.

No domingo, a batalha das sanderistas foi longa, como descreveram no Facebook das Irmãs do Vale.

"Freiras ativistas não têm o luxo de comer até o dia terminar. São 22h50, e só agora vamos conseguir jantar. Num bar de esportes. Apenas comida frita. Quem está reclamando? Nossos pés estão felizes por estarmos sentadas."


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