Folha de S. Paulo


Turcos pró e contra governo protestam contra tentativa de golpe no país

Dezenas de milhares de turcos pró e contra o governo se unem neste domingo (24), em Istambul, numa manifestação em apoio à democracia. O ato é uma reação à tentativa frustrada de golpe de Estado das Forças Armadas da Turquia.

Os manifestantes se reúnem na praça Taskim, onde barreiras foram erguidas para protegê-los, munidos de bandeiras do país e de cartazes que diziam "Sem golpes" e "Estamos ao lado da república e da democracia".

O ato foi organizado pelo Partido Republicano do Povo, de oposição ao presidente Recep Tayyip Erdogan. "Foi uma tentativa de golpe contra nossa democracia, nosso estado secular e social, governado por leis", disse o chefe do partido, Kemal Kilicdaroglu, em seu discurso. "Hoje é um dia de união, um dia para nos levantarmos contra regimes ditatoriais, um dia em que a voz do povo será ouvida. Hoje fazemos história juntos."

Apesar da grande rivalidade entre partidos opositores na Turquia, o prefeito de Istambul e outros líderes no poder se juntaram à oposição para denunciar as intervenções militares.

Na quarta-feira (20), Erdogan declarou estado de emergência no país durante três meses. A medida vai permitir que o presidente se sobreponha ao Parlamento para aprovar novas leis, e poderá limitar ou suspender direitos e liberdades da população.

Na manifestação, Kilicdaroglu não criticou diretamente Erdogan, mas ressaltou a importância da liberdade de imprensa e os perigos da ditadura e do autoritarismo. Ele fez críticas anteriormente, contudo, ao estado de emergência na Turquia, que, segundo ele, prejudica a democracia e dá poderes extras ao presidente.

Em outra demonstração de união depois do golpe falho, a Força Aérea da Turquia declarou "absoluta obediência" ao general Hulusi Akar, que foi feito de refém pelos golpistas no dia 15 de julho. Akar os chamou de "covardes de uniforme" e afirmou que eles prejudicaram a nação e o Exército.

ANISTIA INTERNACIONAL

Segundo o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, as autoridades do país detiveram cerca de 13 mil pessoas –dentre as quais 8.831 soldados– pela tentativa de derrubar o governo de Erdogan. Na semana passada, mais de 60 mil soldados, policiais, juízes, professores e civis foram investigados.

Yildirim diz que os detentos terão um julgamento justo. O grupo Anistia Internacional, por outro lado, disse que recebeu evidências de que os presos foram espancados, estuprados e torturados.

"É absolutamente necessário que as autoridades turcas condenem essas práticas detestáveis e que permitam que funcionários internacionais visitem os detentos", afirmou, em comunicado, John Dalhuisen, diretor da Anistia europeia.

Em seu decreto, o presidente Erdogan estendeu o período de detenção para os suspeitos de quatro para 30 dias, uma decisão que, segundo a Anistia, aumenta o risco de maus tratos e tortura.


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