Folha de S. Paulo


Análise

Ódio a Hillary Clinton não foi suficiente para unir republicanos

Das ruas de Cleveland à arena que abriga a convenção republicana, o movimento "Hillary para a prisão" domina faixas e camisetas e cresceu em estridência nos quatro dias do encontro, reforçando a previsão de que os EUA caminham para a eleição presidencial mais suja de sua história.

A grande questão para o Partido Republicano é se a rejeição a Hillary Clinton será suficiente para unir o partido e dar a vitória a seu candidato, Donald Trump.

O bilionário venceu 16 oponentes para garantir a candidatura, bateu o recorde de votos nas prévias e monopolizou a atenção da mídia americana, mas também causou fraturas no partido com seu estilo cáustico, que ficaram expostas na convenção, apesar dos apelos por união.

O sinal mais óbvio de que a "guerra civil" no partido está bem viva é a recusa em apoiar Trump dos dois últimos rivais a deixar a disputa: John Kasich, o governador de Ohio (onde ocorre a convenção), e o senador Ted Cruz, do Texas. Foi o discurso de Cruz na terça (20) que mereceu a maior vaia da convenção, quando ficou claro que ele não endossaria Trump.

A menos que ele mude o tom agressivo usado contra os oponentes nas prévias e seja capaz de virar o foco para atrair os eleitores de Kasich, Cruz e outros desafetos, será muito difícil derrotar Hillary, diz o cientista político Michael Cornfield, da universidade George Washington.

"Ele terá de apelar ao que é importante para eles, como responsabilidade fiscal, no caso de Kasich, e valores conservadores, no de Cruz", diz. "Até agora ele foi muito bom em ataques, mas fraco em planos coerentes".

Cornfield acha que a aversão a Hillary, provável adversária democrata de Trump, não será suficiente. "Prendam-na!", disse em seu discurso Chris Christie, o governador de Nova Jersey que também foi atropelado por Trump nas prévias antes de se tornar o fiel escudeiro do magnata.

O bordão virou o grito de guerra dos delegados na convenção, referência ao uso por Hillary de um servidor privado de e-mails de quando era secretária de Estado (2009-2013), com supostos riscos à segurança. Após investigação, o FBI (polícia federal) decidiu não indiciar Hillary, mas concluiu que ela foi "extremamente descuidada".

Durante encontro promovido por um grupo judaico nesta quinta (21) em Cleveland, alguém comparou a intensidade dos ataques à atmosfera que antecedeu o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin, em 1995. Durante a convenção, outro ex-rival de Trump na corrida republicana, Ben Carson, chegou a insinuar que ela tem laços com satanistas.

Presente ao evento, o deputado Trent Franks, do Arizona, negou que os ataques tenham passado do limite. "Basta dizermos a verdade sobre ela para parecer que a estamos demonizando", disse à Folha. "Nada do que os republicanos disseram sugere a apologia da violência".


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