Folha de S. Paulo


Assessor de política externa de Trump expõe desconhecimento de Brasil e AL

Joseph Schmitz não é "um especialista em China", mas espera "ficar mais esperto nessa área".

Também se esquiva de questões sobre a Índia, sugere à Folha "enviar um e-mail" a outro colega mais ligado no Brasil e não sabe muito de América Latina —mas tem certeza que os latinos apoiam o chefe, porque seu sogro, hispânico, "é o maior fã de Trump que conheço".

Robyn Beck/AFP
Delegado carrega cartaz de campanha de Trump na votação dos Estados na Convenção Republicana
Delegado carrega cartaz de campanha de Trump na votação dos Estados na Convenção Republicana

Schmitz é um dos principais assessores de política externa de Donald Trump.

Destacado para conversar com a imprensa estrangeira nesta terça (18), não ajudou a apaziguar críticas de que o candidato republicano à Casa Branca não só é inexperiente no assunto, como ainda não conseguiu montar um time de pesos-pesados para o rodear.

Questionado, em março, sobre qual seria sua abordagem nesse campo, Trump respondeu à rede MSNBC: "Número um: vou falar comigo mesmo, porque tenho um cérebro muito bom".

Em seguida, anunciou sua equipe de política externa, que inclui Schmitz, ex-inspetor-geral do Departamento de Defesa de George W. Bush.

Ele deixou o Pentágono em 2005, sob suspeita de fazer vista grossa para acusações contra membros do governo. A mídia da época o descrevia como uma "líder de torcida" para políticas excessivas, pós-11 de setembro, tomadas pelo então secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

Antes de auxiliar Trump, Schmitz era um executivo da Blackwater, poderosa empresa privada de segurança, acusada em 2007 de matar 17 civis na guerra do Iraque.

Para explicar a plataforma do republicano, ele evoca uma máxima de "A Arte da Guerra", manual milenar da estratégia militar: conhecer o inimigo e a si mesmo.

Os maiores rivais: o "islã radical", ameaça externa, e o "politicamente correto", o mal doméstico —espelhado numa suposta incapacidade da gestão Barack Obama em aceitar, por exemplo, que seria preferível banir muçulmanos a pôr toda uma nação em risco.

O republicano fortalecerá o Exército americano, pois "a alternativa seria mais custosa", diz. "É como o velho ditado: o carro mais caro é aquele barato que não funciona direito."

Ele rebateu alegações de que Trump seja um "isolacionista".

Estaria mais para um praticante "do bom senso" ao defender uma reforma da "defasada" Otan e acordos comerciais em que "os dois lados saem ganhando".

O magnata rechaça várias alianças e costuma dizer que os EUA são dilapidados por seus aliados.

BRASIL E AMÉRICA LATINA

A Folha perguntou se o Brasil também tiraria vantagem do país e se o candidato tem alguma política para os vizinhos latino-americanos.

Segundo Schmitz, Trump não trataria a região "como um único bloco". Não conseguiu elaborar a resposta além disso.

Ele destacou que Trump "não só é um empresário de sucesso: é um empresário de sucesso no mundo inteiro". Logo, estaria qualificado para comandar a maior economia do mundo por mares internacionais.

Schmitz se zangou quando um repórter elencou críticas "de especialistas" à inexperiência do empresário.

"Primeiro disseram que ele jamais seria o presidenciável republicano, então sou um pouco cético quando alguém fala que os especialistas afirmaram algo."

Também não gostou quando outro jornalista indagou sobre a proximidade entre Trump e Vladimir Putin.

O empresário já definiu o presidente russo como um "líder poderoso", e Putin devolveu o galanteio, chamando Trump de "homem brilhante e talentoso".

"Você fala como se eles fossem melhores amigos, e isso não é preciso", afirma.

Mas uma coisa é certa, continua Schmitz: "Putin vai respeitar Trump muito mais do que respeita Obama e do que respeitaria Hillary Clinton".


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