O governo alemão disse nesta segunda (18) que a tentativa frustrada de golpe militar na Turquia não afetará o acordo firmado entre a União Europeia e o país para conter a onda de migrantes que tentam chegar à Europa.
Segundo o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, a UE continuará cumprindo sua parte no pacto, que prevê ajuda financeira a refugiados que vivem na Turquia.
Em 2015, mais de 1 milhão de migrantes chegaram ao continente europeu por meio da costa turca. Desde o acordo, o número de travessias caiu drasticamente.
Ainda assim, disse Seibert, caso a Turquia decida pela volta da pena de morte —proposta defendida pelo presidente Recep Tayipp Erdogan—, terá fim as negociações para que o país ingresse no bloco europeu.O país não executa ninguém desde 1984, e a pena de morte foi legalmente abolida em 2004.
Johannes Hahn, comissário que negocia com o governo de Ancara seu acesso à UE, disse acreditar que a Turquia esteja usando a tentativa de golpe para perseguir antigos adversários do governo Erdogan.
Segundo Hahn, a Turquia parecia já ter uma lista de pessoas a serem detidas —entre elas, juízes, generais e procuradores opositores—, antes do episódio da última sexta (15).
Apesar de o governo argumentar que já teve fim a tentativa de golpe, mais de 1.800 policiais das forças especiais chegaram nesta segunda a Istambul de províncias vizinhas para patrulhar os principais pontos da cidade.
Além disso, o presidente Erdogan ordenou o sobrevoo de jatos de combate no espaço aéreo do país.
NOVO BALANÇO
Com lágrimas nos olhos e voz embargada, o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, disse nesta segunda (18) que ao todo 232 pessoas morreram na tentativa de golpe militar —208 apoiadores do governo e 24 conspiradores. Das mortes pró-governo, 145 foram de civis, 60 de policiais e 3 de soldados.
Representantes do governo e das Forças Armadas tinham antes colocado essa cifra em 294. Autoridades ainda não esclareceram a discrepância.
Durante o anúncio, Yildirim repetiu uma frase que, segundo ele, seu neto havia lhe feito: "Por que eles estão matando as pessoas?". Ele disse que não soube responder à criança, mas que o governo iria responder com firmeza.
O premiê também atualizou o número de detenções feitas pelo governo turco, elevando a cifra para 7.543, incluindo 6.030 militares. Segundo a agência de notícias turca Anadolu, ligada ao governo, estão sendo interrogados nesta segunda 27 generais e almirantes. Entre eles, o general Akin Ozturk, que foi descrito pelas autoridades como o mentor do golpe. Ele nega a acusação.
Ainda de acordo com a Anadolu, o Ministério do Interior turco demitiu 8.777 de seus funcionários, incluindo 30 governadores, 52 inspetores civis e 16 conselheiros legais.