Folha de S. Paulo


Parentes e amigos de vítimas cobrem manchas de sangue com flores em Nice

Pascal Rossignol/Reuters
A woman pulls her suitcase as she walks past flowers and a stuffed toy placed in tribute to victims of the truck attack along the Promenade des Anglais on Bastille Day that killed scores and injured as many in Nice, France, July 17, 2016. REUTERS/Pascal Rossignol ORG XMIT: PAR242
Amigos e parentes de vítimas cobriram manchas de sangue em Nice com homenagens a mortos

Este domingo (17) seria só mais um dia de sol esplêndido na Riviera Francesa, mas os cidadãos de Nice saíram ao passeio marítimo para chorar e homenagear as 84 pessoas que morreram atropeladas na noite de 14 de julho.

A avenida beira-mar foi reaberta parcialmente ao tráfego de carros, preservando-se o trecho de 2 km onde ocorreram as mortes por atropelamento. Por ali passa incessantemente uma multidão silenciosa, atenta à dor assinalada no asfalto.

Nos pontos onde os corpos foram encontrados, as manchas de sangue não puderam ser totalmente apagadas. Parentes e amigos das vítimas cobriram as marcas com flores, velas, bilhetes, bandeiras da França.

O caminhão transformado em arma pelo tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel saiu da faixa de rolamento e subiu no calçadão em frente ao hotel West End. Nesse trecho, o calçadão é mais largo e abrigava grande quantidade de pessoas. Doze corpos foram retirados do local.

"Foi uma carnificina, as pessoas aqui estão tremendamente comovidas. Meus clientes não falam de outra coisa. E os turistas estão indo embora, será muito difícil para a cidade, que vive disso", diz Christian Mistura, que há 38 anos é jornaleiro na banca agora cercada pelas marcas no chão.

Nice

Brinquedos e ursos de pelúcia indicam os pontos em que cada uma das dez crianças atingidas pelo caminhão morreu. Adultos e crianças se aproximam, ajoelham-se para depositar flores. Alguns rezam. Outros sacam um lenço do bolso para enxugar as lágrimas.

"Não consigo compreender como podem matar crianças, anjos que estavam com os olhos no céu vendo fogos de artifício, é desumano", diz Laura Salmon, moradora de Nice, acompanhada do filho de 18 meses.

Ela conta que participa quase todos os anos da festa de 14 de julho exatamente no ponto onde houve o maior número de mortes, em frente ao cassino Palácio do Mediterrâneo.

Laura e o filho só escaparam da tragédia porque o menino adoeceu na noite do dia 14 e a família decidiu ficar em casa. Ela já visitou o local várias vezes desde sexta-feira (15).

"Não vamos nos render ao medo. Temos que continuar vivendo, que celebrar a vida. Tudo o que os terroristas querem é que vivamos com medo", disse.

O psiquiatra francês Fulvio Mazzola estava de férias quando ocorreu o atentado. Apresentou-se voluntariamente ao hospital de Nice onde trabalha na sexta-feira, e neste domingo compartilhava o luto com centenas de pessoas no calçadão.

"É preciso estar aqui. Tenho o sentimento de tristeza mas também a necessidade de solidariedade. Temos que viver esse momento juntos, expressar nossa solidariedade diante dessa violência", diz.

Na segunda-feira (18), quando todos tentarão voltar à vida normal, Mazzola e um grupo de psiquiatras e psicoterapeutas estarão trabalhando no treinamento de mais profissionais para lidar com pacientes que sofrem estresse pós-traumático.

"É um momento de reflexão. É preciso estancar a espiral de violência. Responder a violência com mais violência é o pior que pode nos acontecer", diz Mazzola.

Editoria de arte/Folhapress
Atentado em Nice - arte

Endereço da página:

Links no texto: