Folha de S. Paulo


Brasileiros na Turquia reportam medo e dificuldade de comunicação

Brasileiros em viagem à Istambul, na Turquia, para turismo relatam caos e falta de orientação depois da tentativa de golpe militar ocorrido no país nesta sexta (15). Os voos foram suspensos no aeroporto internacional da cidade.

"Eu acho que não deveria ter vindo", diz a maquiadora capixaba Ana Sousa, 27. Ela chegou à Turquia há dois dias, e seguiria para a Grécia no domingo (17). "Agora noticiaram que o aeroporto foi fechado pelo Exército e eu não consigo falar com a companhia aérea", diz Sousa, que está hospedada em Sultanahmet, bairro onde ficam pontos turísticos como a Mesquita Azul e o museu Santa Sofia. "Não ouvimos tiros, mas o clima na rua está tenso."

As Forças Armadas da Turquia anunciaram nesta sexta-feira (15) que passaram a controlar o governo, em golpe de Estado contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, que pediu a seus seguidores que desafiem os militares.

No primeiro dia de viagem Sousa conheceu o estudante de administração Paulo Brito, 25, cujo voo estava marcado para a noite de sábado (16). "Já avisei a família que não devo voltar pra casa tão cedo, mas disseram na recepção do hotel que a situação deve se normalizar rápido. Pelo menos para estrangeiros."

Os viajantes afirmaram que não têm planos de sair do hotel. "Minha família ia ligar no Itamaraty para avisar que estávamos aqui, porque não consegui falar no número da Embaixada Brasileira aqui", diz Sousa.

O estudante de arquitetura João Pedro Nogueira, 21, chegou ao país com a mãe, Paula, e a irmã de 12 anos, Isadora, nesta quarta (14).

"Hoje, quando fomos jantar, o taxista disse que estava tendo um protesto, que ia desviar, mas achei normal", afirma João. "Fomos dormir por volta da meia-noite, mas logo em seguida um amigo me mandou mensagem falando sobre o que aconteceu."

A família e os outros cinco brasileiros do grupo, que seguiria para Ancara, capital do país, cujos acessos foram interrompidos, estão acompanhando o desenrolar dos acontecimentos de dentro de um hotel na parte europeia da cidade, sem previsão de saída.

"Estamos ouvindo tiros, bem alto, e às vezes passam carros e pessoas com a bandeira do país", afirmou ele, que diz que o acesso às redes sociais chegou a ser cortado durante a madrugada, mas já foi restabelecido.

PERDIDOS

"A gente está completamente perdido", disse à Folha sua mãe, a relações públicas Paula Pedrão. "A gente está preso no hotel, não sabe para onde ir", diz o filho.

Segundo Paula, os turistas brasileiros estão à espera do guia, turco, para decidir o que fazer. "Não sei se vamos sair do país ou ficar, o que for mais fácil."

O grupo tentou entrar em contato com o plantão do consulado brasileiro em Istambul, mas não conseguiu. "O telefone normal ninguém atende, e o do plantão não chama", afirma João.

No hotel também relataram dificuldades para conseguir orientação. Mas, segundo o estudante, os funcionários pareciam estar "tranquilos" com a situação. "Eu liguei na recepção, estava debaixo da mesa, ouvindo tiros, e o recepcionista parecia bem tranquilo."

Procurado, o Itamaraty informou que "está acompanhando de perto a situação". Em nota, informaram que brasileiros na Turquia devem fazer "contato com seus familiares no Brasil a fim de tranquilizá-los" e recomendaram "evitar a circulação pelas ruas, em todo o país, até que a situação se normalize".

MENOS BRASILEIROS

Profissionais do turismo afirmam que o número de brasileiros no país é mais baixo do que nas últimas férias de julho.

"Dez grupos cancelaram sua vinda para cá em julho, depois do atentado no aeroporto [em que ao menos 44 pessoas foram mortas e cerca de 240 ficaram feridas, quando homens-bomba armados entraram no principal aeroporto do país]", diz Mehmet Ali Ba_kut, guia especializado na comunidade brasileira e ciceroneou parte da equipe da novela "Salve Jorge" (2012), da TV Globo, que teve cenas gravadas no país. "Por isso a gente se deu umas férias mais prolongadas."


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