Folha de S. Paulo


Familiares de terrorista recebem jornalistas com pedradas na Tunísia

Familiares de Mohamed Lahouaiej Bouhlel, apontado como autor do atentado em Nice que deixou 84 pessoas mortas, receberam jornalistas com facas e pedradas nesta sexta-feira (15) na cidade de Sousse, onde o tunisiano nasceu.

Jornalistas de uma rádio local de Sousse foram recebidos por um dos irmãos de Mohamed e dois primos com pedradas. Os familiares gritavam para que os jornalistas se afastassem da casa e logo depois apareceram na porta com facas. O pai de Mohamed se recusou a falar com a imprensa.

Antes de expulsar os jornalistas, o irmão afirmou que Mohamed não era nada religioso –não fazia jejum, nem as orações diárias. E que havia ligado dois dias atrás dizendo que iria à Tunísia celebrar a circuncisão do filho.

Na Tunísia, havia preocupação com a notícia de que o autor do ataque era tunisiano. "Estamos preocupados, porque o racismo vai aumentar, meus primos que moram em Nice já estão tentando se defender pelo Facebook, apontando que o tunisiano cometeu o atentado porque tinha problemas psicológicos, e não porque era muçulmano –foi a mesma coisa que ocorreu com o piloto alemão que sequestrou aquele voo da German Wings", diz a jornalista Safa Ben Said, 26.

Mas também havia muitos tunisianos apreensivos com seus parentes, já que Nice abriga parte dos cerca de 1 milhão de tunisianos que moram na França. Além disso, a cidade é um dos principais destinos turísticos dos tunisianos –em Tunis, é comum ver faixas de companhias aéreas anunciando passagens para Nice por 200 dinares tunisianos (cerca de 90 euros).

Em Douar Hicher, subúrbio pobre perto de Tunis conhecido como maior celeiro de extremistas –de lá saem a maioria dos tunisianos que vão lutar no Iraque e na Síria ao lado do Estado Islâmico–, poucos sabiam do ataque em Nice.

A Tunísia é o maior exportador de extremistas do mundo: entre 6.000 e 10.000 tunisianos estão combatendo na Síria, Iraque e Líbia, número muito superior a países como Arábia Saudita.

Cerca de 1% da população jovem de 16 a 35 anos embarcou na jihad, segundo o consultor Youssef Cherif, da Cherif Consultants. "Existe um ressentimento em relação aos franceses que é tanto anticolonialista como religioso, e os dois estão ligados à marginalização dos tunisianos", diz Cherif.

ATENTADO

Em junho de 2015, um homem disfarçado de turista matou 38 pessoas, 30 delas britânicas, em um hotel à beira-mar na cidade de Sousse. Saif Rezgui, 23, abriu um guarda-sol e retirou dele um fuzil Kalashnikov para abrir fogo contra os banhistas. A ação foi reivindicada pelo Estado Islâmico.


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